O gênero Homo, no qual se encontram os hominídeos mais semelhantes a nós, teve origem na África. Segundo estimativas, esse surgimento ocorreu há mais ou menos 2,8 milhões de anos, em florestas tropicais africanas. A partir daí, esses hominídeos, incluindo o Homo sapiens migraram para outros continentes. Nesse sentido, um estudo acaba de mostrar que os primeiros hominídeos a saírem da África provavelmente tinham cérebros parecidos com os grandes macacos modernos.
Cinco crânios de hominídeos primitivos, por conseguinte, foram encontrados em bom estado de conservação no sítio arqueológico de Dmanisi, na Geórgia. Esses crânios pertenceram a indivíduos variando desde adolescência até idades avançadas que viveram há aproximadamente 1,8 milhões de anos. Por meio disso, portanto, os pesquisadores puderam comparar e estimar o tamanho dos cérebros desses hominídeos com os humanos e grandes macacos atuais.
Contudo, os tecidos do cérebro em si se decompõem rapidamente, e não fossilizam. Assim, os pesquisadores utilizaram as camadas mais internas do crânio para avaliar o formato e desenvolvimento de algumas partes do cérebro dos Homo primitivos.
Os resultados mostraram que esses indivíduos, já tendo migrado da África, ainda possuíam cérebros parecidos com os dos grandes macacos ancestrais, semelhantes também aos gorilas e orangotangos atuais.
Formato dos cérebros como vantagem evolutiva
Até então, acreditava-se que um cérebro semelhante ao dos Homo sapiens poderia ter sido uma alavanca evolutiva, possibilitando o domínio mais efetivo de territórios pela migração. Contudo, o artigo mostra que os primeiros humanos primitivos a sair da África, na verdade tinham cérebros simiescos.
Isso, contudo, não impediu que essas espécies desenvolvessem estruturas sociais e comportamentos complexos de exploração de recursos. De acordo com os autores, mesmo estes humanos primitivos mantinham uma relação de cuidado acentuada com os membros idosos da tribo, por exemplo.
Toda essa exploração do território aconteceu pelo menos 1 milhão de anos antes do surgimento de cérebros mais humanos, com um córtex frontal bastante desenvolvido. Essa parte do cérebro, inclusive, é a principal moduladora da linguagem e do uso de ferramentas.
A vantagem dos H. sapiens, ademais, vem do córtex desenvolvido, que permitiu uma maior articulação social e domínio do território. Eventualmente essa vantagem foi tão grande que levou à extinção de todas as outras raças de humanos que habitaram o planeta. Entretanto, esses Homo com um córtex não tão avantajado já dominavam regiões fora do continente africano muito antes dos sapiens roubarem a cena.
O artigo está disponível no periódico Science.