Muitos artrópodes, como as aranhas, são solitários e raramente formam colônias. As formigas, por outro lado, evoluíram para formar colônias altamente complexas e massivas, às vezes passando dos milhões de indivíduos. Assim, estes insetos desenvolveram uma estratégia curiosa: criar uma jangada viva para sobreviver a enchentes.
Quando se é um inseto, uma poça de água pode ser letal. Assim, muitos invertebrados conseguem evitar o afogamento das mais variadas formas. Acontece que um grupo de pesquisadores observou formigas-de-fogo formando jangadas com seus próprios corpos. Essas balsas de material vivo protegeram a colônia por horas.
A pesquisa, publicada na revista The Royal Society coletou colônias de formigas-de-fogo com 3.000 a 10.000 formigas cada. Os cientistas então encheram um compartimento com água, contendo apenas uma vareta no centro onde as formigas poderiam se agarrar.
Após algum tempo de observação, os pesquisadores viram que as formigas se agrupavam formando estruturas que boiavam. Ademais, as jangadas tinham dois tipos de formigas, de acordo com a sua função. Um grupo, chamado de estrutural, se agarrava firmemente aos outros indivíduos, numa formação compacta. Já o outro grupo andava livremente por cima dos demais, às vezes trocando de posição e auxiliando onde necessário.
Como o ambiente molda o comportamento de jangada
As formigas possuem um exoesqueleto de quitina. Esse polissacarídeo não se dissolve na água e, portanto, confere alguma impermeabilidade às formigas. Além do mais, como os bichos são muito pequenos, a tensão superficial da água acaba segurando-os mais facilmente na superfície.
A formação deste tipo de jangada, por conseguinte, já apareceu diversas vezes em registros e estudos anteriores. Assim, é provável que este seja um recurso bastante antigo das formigas.
Em florestas, sobretudo tropicais, enchentes e alagamentos podem ocorrer praticamente a qualquer momento. Assim, as formigas que aprenderam a formar jangadas acabaram persistindo mais facilmente a variações drásticas do ambiente. Nesse caso, uma enchente poderia acabar com toda a colônia das formigas.
Além do mais, a pesquisa observou que a jangada de formigas pode, ainda mais surpreendentemente, formar tentáculos. Acontece que as estruturas da boia, formadas por formigas, podem se estender e esticar para os lados, procurando alguma ancoragem. Esse comportamento pode auxiliar as formigas a encontrar terra firme mais facilmente.
De acordo com a pesquisa, outros fatores como o ambiente e a espécie das formigas podem criar padrões diferentes nas jangadas. Contudo, estas variáveis não foram avaliadas nessa pesquisa.
O artigo está disponível no periódico The Royal Society.
