Estudo sugere que extinta preguiça terrestre se alimentava de carne

Letícia Silva Jordão
Imagem: Reconstrução artística de Jorge Blanco

Por mais que todas as espécies de preguiças atuais sejam vegetarianas, um grupo de pesquisadores do Museu Americano de História Natural descobriram evidências que mostram que Milodonte, uma extinta preguiça terrestre gigante que viveu na América do Sul cerca de 10.000 anos atrás, se alimentava de carne e plantas.

Essas preguiças gigantes, que também eram conhecidas como “preguiça terrestre de Darwin“, podiam pesar 200 quilos e chegar a mais de 3 metros de altura quando ficavam de pé sob as patas traseiras. Elas possuíam uma grossa pelagem que servia de armadura, fazendo com se tornasse improvável que ela tivesse inimigos naturais, exceto os seres humanos.

Segundo a autora principal do estudo, Julia Tejada “Se eles eram necrófagos esporádicos ou consumidores oportunistas de proteína animal, não podemos determinar em nossa pesquisa. Mas agora temos fortes evidências que contradizem a antiga suposição de que todas as preguiças eram herbívoros obrigatórios”.

Milodonte
Representação gráfica de um Milodonte, antiga preguiça terrestre. Imagem: Agencia CTyS

Uma abordagem inovadora foi utilizada na extinta preguiça terrestre

Para fazer essa descoberta, os cientistas utilizaram uma nova abordagem que é baseada em isótopos de nitrogênio bloqueados em aminoácidos específicos, que são armazenados dentro de certas partes do corpo do animal, como os dentes, ossos, colágeno e tecidos queratinosos como os cabelos e as unhas.

Com a análise dos primeiros valores de nitrogênio em aminoácidos dentro de um extenso conjunto de herbívoros e onívoros atuais, seria possível definir um sinal de uma alimentação misturada de plantas com carnes para que assim os fósseis pudessem ser medidos e dessa forma, seria determinado o alimento que esses animais consumiam.

Os métodos utilizados antes deste eram baseados em análises de massas de nitrogênio e fórmulas complexas que muitas vezes tinham suas suposições não testadas ou mal suportadas.

Para realizar a pesquisa, os cientistas utilizaram amostras de sete espécies vivas e extintas de preguiças e tamanduás, que são relacionados às preguiças, assim como de onívoros atuais. Depois de analisar todo o material, os pesquisadores constataram que a extinta preguiça terrestre era onívora, se alimentando assim de vegetais e carnes.

Descoberta que derruba o que os cientistas acreditavam

Os cientistas sempre acreditaram que as preguiças antigas também eram herbívoras, já que todas as seis espécies modernas de preguiças são vegetarianas confirmadas e também porque seus dentes e mandíbulas não foram adaptados para caçar ou mastigar com força.

Mas a descoberta também ajudou a preencher uma lacuna na história. Estudos anteriores presumiam que havia muitos animais herbívoros, e que a quantidade de plantas existentes não era o suficiente para a alimentação deles. Por conta disso, existia uma suposição de que os herbívoros poderiam ter encontrado outras fontes de alimento, que foi comprovado por esse estudo que ofereceu evidências suficientes de apoio a esta ideia.

Segundo a pesquisadora Tejada, este estudo que foi publicado na revista Scientific Report,  fornece a primeira evidência de uma espécie ancestral onívora, o que exige dos cientistas uma reavaliação da estrutura ecológica das antigas comunidades de mamíferos da América do Sul, já que a extinta preguiça terrestre representa um componente importante desses ecossistemas.

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