O “telefone” de 1200 anos de uma antiga civilização da América do Sul

Felipe Miranda
(Travis Rathbone).

Sim, se parece com aqueles telefones de brinquedo das crianças. No entanto, este é um “telefone” de 1200 anos – entre 1200 e 1400 anos, para ser mais exato. E nada tem a ver com teorias conspiratórias, como alienígenas e peças de porcelana que conduzem wi-fi utilizando pirâmides como antena. Não trata-se de nada insano. No entanto, essa peça funcionava como um telefone e os povos pré-colombianos o criaram há mais de um milênio. 

A civilização Chimu habitou uma área na região oeste da América do Sul, mais precisamente o vale do Rio Moche, no norte do atual Peru. Os arqueólogos encontraram o exemplar nas ruínas de Chan Chan. O mais impressionante de tudo é que os chimus nem possuíam ao menos uma linguagem escrita, conforme o Ancient Origins.

O “telefone” de 1200 anos

Os indígenas fabricaram os receptores com cabaças (um nome popular que se refere a diversas frutas dos gêneros Lagenaria e Cucurbita), também chamados popularmente de jamaru e cuia, dois termos derivados do tupi. A abóbora, por exemplo, é uma das plantas do tipo cabaça. Utiliza-se, no entanto, o termo cuia, principalmente para referir-se ao pote do chimarrão. Não coincidentemente, uma cuia é feita de uma cabaça.

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Faca cerimonial Chimu. (Daderot / Wikimedia Commons).

Na base menor (o que seria o “fundo do copo”), há uma pele de couro esticada. Ligado ao couro, há um longo barbante fabricado em algodão, que conecta até outro. É o mesmo sistema dos telefones de brinquedo, feitos com copos descartáveis e barbantes. Ao esticar o fio, podemos nos comunicar com a pessoa do outro lado. É uma comunicação bem ruim, mas funciona.  O instrumento conserva-se até os dias de hoje pelo revestimento de uma resina, que funciona como um verniz.

“Os Chimu eram um povo habilidoso e inventivo”, diz Ramiro Matos, curador do National Museum of the American Indian, nos Estados Unidos, ao historiador Neil Baldwin em uma matéria da Smithsonian Magazine. Matos explica a Baldwin que os chimu tornaram-se verdadeiros engenheiros, não destacando-se apenas pelo primeiro aparato telefônico do ocidente. Eles também eram ótimos artesão, além da metalurgia e dos sistemas de irrigação de plantações que fabricaram.

Estados Unidos?

Você notou que o objeto localiza-se em um museu nos Estados Unidos, ao invés de estar no Peru? Isso ocorreu por culpa do nobre prussiano Barão Walram V. Von Schoeler. Quando era criança, fascinou-se por escavações ao encontrar evidências de habitação pré-história dentro do terreno do castelo de seu pai. Então, tornou-se um aventureiro. 

Possivelmente ele próprio escavou o telefone. Na década de 1940, morando em Nova York, Von Schoeler possuía uma coleção de artefatos arqueológicos da América do Sul – dentre eles, então, o telefone. Depois, ele entregou alguns de seus artefatos a museus espalhados pelos Estados Unidos, e hoje o telefone ainda se localiza por lá. 

Os Chimu

Em 1470 o Imperador Inca Tupac Yupanqui conquistou o Reino Chimu, acabando com aquela civilização. Mas ele não destruiu tudo o que estava por lá. Hoje, portanto, as construções e os artefatos que os arqueólogos desenterram explicam um pouco sobre a esquecida civilização. 

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Arquitetura Chimu. (Kevstan / Wikimedia Commons).

O núcleo da civilização localizava-se, então, em uma grande metrópole. Enormes muros cercavam complexas construções feitas por 10 reais diferentes, em um intervalo de séculos, formando uma cidade completa, com prédios comerciais, prédios administrativos, poços, prédios residenciais, cemitérios, e tudo o que uma civilização em seu auge possui.

Nesse sentido, o telefone possivelmente pertencia a algum membro da elite. No entanto, não se sabe qual o uso do dispositivo. Especula-se que a comunicação entre pessoas da elite e outros mais baixos na hierarquia, para evitar contatos diretos, ou talvez um uso religioso, uma “falsa comunicação com os deuses”, para impressionar aos fiéis.

Seja qual for o uso para um telefone de 1200 anos, a tecnologia impressiona. Não tem nada de alienígena nisso, entretanto. O princípio de funcionamento é simples, mas quase ninguém naquela época percebeu. 

Com informações de Ancient Origins e Smithsonian Magazine

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