Descoberto DNA neandertal e denisovano em antigos sul-americanos

Apesar de extintas, a genética dessas duas espécies estava presente nos primeiros brasileiros.

Daniela Marinho

A ancestralidade genética de alguns dos primeiros humanos do continente está sendo revelada por meio de dois sítios arqueológicos brasileiros, mais precisamente no nordeste do país. Nesse sentido, foi descoberto DNA neandertal e denisovano — duas espécies de humanos que já estão extintas — em antigos sul-americanos.

Essa descoberta ajuda os pesquisadores na compreensão a respeito dos da América do Sul e seus ancestrais.

Antigos sul-americanos tinham DNA neandertal e denisovano

Publicada na revista Proceedings of the Royal Society B, a pesquisa inédita relata a descoberta feita por cientistas de DNA neandertal e denisovano em povos sul-americanos. Além disso, o estudo feito em restos humanos no Brasil, Panamá e Uruguai revelou padrões de migração desses primeiros povos em todo o continente: as evidências arqueológicas comprovaram que houve migração norte-sul em direção à América do Sul, mas também indicou que migrações ocorreram na direção oposta, ao longo da costa atlântica.

André Luiz Campelo dos Santos, arqueólogo da Florida Atlantic University e principal autor do estudo, disse que “A presença desses ancestrais em genomas antigos de nativos americanos pode ser explicada por episódios de cruzamento entre humanos anatomicamente modernos e neandertais e denisovanos, que deveriam ter ocorrido milênios antes de os primeiros grupos humanos entrarem nas Américas pela Beríngia”.

Como o trabalho foi realizado

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Sítio Pedra do Tubarão no nordeste do Brasil. Imagem: Henry Lavalle e Desiree Nascimento, Universidade Federal de Pernambuco

Os pesquisadores compararam os genomas de restos humanos antigos encontrados nos países sul-americanos citados com restos antigos de todos os Estados Unidos (incluindo o Alasca, para representar a antiga Beríngia), Peru e Chile. Desse modo, dois genomas inteiros antigos de dentes encontrados no nordeste do Brasil que foram incluídos no estudo foram recentemente sequenciados.

Além disso, a equipe analisou os genomas mundiais atuais e as sequências de DNA retiradas de restos de Denisovan e Neandertal da Rússia. De acordo com a análise da equipe, os últimos restos mortais têm mais de dezenas de milhares de anos – os neandertais desapareceram do registro fóssil há cerca de 40.000 anos – mas alguns dos restos humanos têm apenas 1.000 anos.

O resultado da pesquisa é deveras intrigante, uma vez que a análise revelou pedaços de DNA neandertal e denisovano nos antigos genomas sul-americanos, bem como sinais da Australásia nos restos mortais de um indivíduo do Panamá. O sinal da Australásia foi detectado anteriormente em restos antigos no sudeste do Brasil e está presente hoje no povo Sirui da Amazônia.

Atualidade oposta

DNA neandertal e denisovano
Sítio de Alcobaça no Brasil, onde restos de esqueletos foram descobertos. Imagem: Henry Lavalle e Desiree Nascimento, Universidade Federal de Pernambuco

Laurits Skov, pesquisador do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva que não participou do estudo, afirmou que “A quantidade extra de ascendência Denisovana em algumas populações parece se encaixar com a ascendência extra de papuas, então, nesse sentido, os dados são consistentes […] No futuro, será muito interessante se pudermos descobrir exatamente quando esse componente ancestral da Australásia aparece nas Américas e quanto denisovano/neandertal ele traz consigo”.

Os humanos em todo o mundo são um pouco neandertais, segundo um estudo recente. Contudo, os indivíduos antigos no Panamá e no Brasil tinham mais sinais ancestrais Denisovanos em seus genomas do que ancestrais específicos de Neandertal, contrapondo a atualidade oposta.

Dessa forma, a ascendência denisovana foi misturada aos humanos sul-americanos há 40.000 anos, e seu sinal persistiu nos restos mortais de um indivíduo de 1.500 anos do Uruguai, como afirma o co-autor do estudo, John Lindo, antropólogo da Emory University.

História da existência humana

Em cada descoberta como essa, a história da existência humana se torna mais sólida, intrigante e fascinante, pois à medida que genomas mais antigos são sequenciados, os cientistas podem desenvolver um retrato mais completo de como a humanidade se dispersou pelos continentes e quanto do que nos torna humanos não é realmente do Homo sapiens.

Iosif Lazaridis, geneticista da Universidade de Harvard, afirmou que “A ancestralidade da Australásia nas Américas é desconcertante, pois isso foi relatado para amostras isoladas amplamente separadas por espaço e tempo e não mostra um padrão claro”. Contudo, ela acrescenta mais informações relevantes sobre a genética de espécies de hominídeos há muito perdidas.

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