Tubarão-charuto, o terror das baleias e dos golfinhos

Jamille Rabelo

Durante anos, os pesquisadores que estudam a vida marinha deparavam-se ocasionalmente com animais – como golfinhos, peixes-espada, tubarões-brancos e mesmo humanos – com buracos em forma de charuto retirados dos seus corpos.

Essas mordidas e cicatrizes eram quase como se alguém tivesse removido cirurgicamente um pedaço de tecido. Estas mordidas, no entanto, não se restringiam apenas a animais, pois os submarinos nos anos 70 e 80 tinham os seus sensores de sonar revestidos de borracha e eram mordidos desta mesma forma. Assim como os cabos elétricos subaquáticos apresentavam mordidas da mesma forma estranha.

Eventualmente, descobriu-se que o culpado era um pequeno tubarão (de até 50 centímetros) que se encontra distribuído pelas águas tropicais e subtropicais oceânicas do mundo, chamado tubarão-charuto (Isistius brasiliensis).

Embora estes tubarões estejam amplamente distribuídos por todo o mundo, pouco se sabe sobre eles. Eles podem ser um dos tubarões mais comuns no oceano, mas vivem em mar profundo, dificultando seu estudo.

Um estudo publicado na Nature liderado por Aaron Carlisle, da Universidade de Delaware, revelou a dieta e possíveis hábitats dos tubarões-charuto. Mostrando que, embora possam tirar um pedaço de tudo que conseguem, eles alimentam-se principalmente das pequenas criaturas com quem compartilham um hábitat, tais como crustáceos, lulas e pequenos peixes.

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Golfinho com marcas de mordida do tubarão-charuto.

Descoberta dos hábitos alimentares do tubarão-charuto

Durante anos, cientistas presumiram que os tubarões-charuto subiam à superfície durante a noite, alimentando-se de baleias e animais maiores, e depois regressavam ao oceano profundo.

Os hábitos alimentares destes animais têm sido pouco estudados, em torno de 150 estômagos de tubarões-charuto foram estudados em todo o mundo nos últimos 50 anos.

Quando os pesquisadores estudam os tubarões, eles só conseguem descrever o que contém fisicamente no estômago, o que as vezes não pode ter nada. Eles só podiam fazer inferências a partir das mordidas que tinham visto nas espécies maiores.

A partir das descobertas, Carlisle observou que o tubarão-charuto é um dos únicos animais que se alimentam de criaturas do topo e da base da cadeia alimentar.

Para este estudo, os pesquisadores utilizaram 14 tubarões-charuto que foram recolhidos em torno do Havaí. Utilizaram uma variedade de técnicas de rastreio bioquímicas – incluindo análise de isótopos estáveis, ácidos graxos e DNA ambiental – para ajudar a compreender melhor os hábitos alimentares e hábitats das espécies.

Na análise física, os estômagos estavam vazios. No entanto, as análises modernas permitiram extrapolar possíveis dietas dos tubarões. Como, por exemplo, o resultado do DNA ambiental mostrou o que os tubarões já comeram.

Cookie cutter shark

Padrões de hábitat

Os cientistas também puderam inferir sobre o hábitat do tubarão-charuto.

Normalmente, os tubarões-charuto são observados na superfície durante a noite. Isto levava os pesquisadores a acreditar que esses animais migram de águas mais profundas para se alimentar. No entanto, isto pode acontecer apenas para os adultos, e não para filhotes.

A maioria dos animais que habitam o mar profundo, vivem muito tempo e se reproduzem lentamente.

A exploração do mar profundo pode ter consequências graves para ainda o que pouco se conhece da vida profunda.

Carlisle salientou que o oceano profundo está cada vez mais explorado pela pesca e outras indústrias extrativistas. Desta forma, é importante continuar avançando na pesquisa destas espécies de águas profundas e difundir o conhecimento para o público.

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