Cometas são astros bastante populares. Ao ouvirmos falar de Sistema Solar, porém, pensamos primeiro em seus oito planetas, de Mercúrio até Netuno, e suas luas. Ou então, hoje rebaixado a planeta anão, Plutão. Também pensamos em sua estrela central, o Sol. Além disso, pode vir também à mente a imagem de asteroides, como no cinturão entre Júpiter e Marte. Os cometas, de qualquer forma, acabam por ser mais lembrados por suas passagens pelas vizinhanças do que sua posição, seu tamanho e presença em nosso sistema estelar.
De fato, a passagem de um cometa conhecido tende a ficar marcada na história. Por exemplo, no caso do cometa Halley. A última vez em que o vimos cruzar o céu foi em 1986. O evento foi extensivamente registrado e teve grande importância cultural para os anos 80. Esperamos hoje sua próxima observação, prevista para 2061. A imagem de um pontinho brilhante no céu, seguido de sua longa cauda, pode, contudo, enganar. Da mesma forma, aliás, que estrelas. Vemos-as como pontinhos no céu, mas o Sol, que não é uma das maiores, tem quase 700000 km de raio. No caso do Halley, seu diâmetro é de 11 km. E há por aí casos ainda mais surpreendentes.
A origem dos cometas
Os cometas têm sua origem na parte mais externa do Sistema Solar. Com isso, falamos de Plutão em diante. Há duas grandes regiões na área, chamadas de Cinturão de Kuiper e Nuvem de Oort. Ambas têm semelhanças, como a presença de poeira e corpos formados de gelo. A primeira, contudo, tem forma de disco e inclui tanto Plutão, quanto outros planetas anões, como Eris e Makemake. Além disso, é mais próxima a nós. A segunda tem forma esférica e é mais distante. Também pensa-ser bastante extensa, podendo compreender de 2 a 200 mil anos-luz de distância do Sol. Deve ter sido formada a partir da nuvem primordial de gás e poeira que originou o Sistema Solar.
É essa região que os astrônomos entendem ser a origem dos cometas. Compostos principalmente por gelo e dióxido de carbono congelado, não é surpresa se originarem de regiões frias. Da Nuvem de Oort viriam cometas de longo período, com órbitas mais elípticas e excêntricas e passagens rápidas pelo sol. Eles marcam presença por nossa região com pouca frequência e podem existir trilhões na gélida nuvem distante do Sistema Solar. Do Cinturão de Kuiper, por sua vez, surgem os cometas de curto período. Esses nos visitam com maior frequência. São cometas de curto período, aliás, os que puderam ser vistos mais de uma vez na história humana.
Um objeto raro e dos grandes
A Nuvem de Oort também está prestes a nos presentar com um colosso celestial. Um cometa que acredita-se não ter nos visitado nos últimos 3 milhões de anos está vindo em nossa direção. E mais, ele tem 155 km de diâmetro. De fato, C/2014 UN271, também chamado de cometa de Bernardinelli-Bernstein, é tão grande que acreditava-se ser um planeta anão. Apesar disso, não devemos poder vê-lo a olho nu. Sua posição de maior aproximação ao Sol, também chamada de periélio, que ocorrerá em 2031, será próxima da órbita de Saturno. Ainda assim, será uma grande oportunidade de estudar o cometa através de telescópios.
A descoberta do cometa, aliás, vem de uma fonte inesperada. A iniciativa Dark Energy Survey, que mapeou de 2013 a 2019 o céu do hemisfério sul, tinha o objeto de encontrar informação relevante para o estudo da energia escura. A precisão e profundidade do mapeamento, contudo, permitiu também outras utilidades. Mais de 450 objetos na região externa do Sistema Solar puderam ser descobertos dessa forma. Um deles, o gigantesco corpo em questão, descoberto por Gary Bernstein e o brasileiro Pedro Bernardinelli, da Universidade da Pensilvânia.
Além da aproximação possibilitar conhecer mais de perto um objeto recém-descoberto, não há evidência para o cometa ter chegado antes em distâncias como a que está prevista. Ainda, pode fornecer informações importantes sobre o Sistema Solar primordial. Pensa-se que objetos da Nuvem de Oort não devem ter se alterado muito desde a sua formação, há cerca de 4.5 bilhões de anos. Entre o gelo do cometa, portanto, podem estar substâncias que datam das origens do nosso sistema estelar. Os cientistas também já perceberam sinais da coma, a “atmosfera” que surge da evaporação do núcleo do cometa. E quando estiver ainda mais próximo do Sol, poderemos ver a marca registrada desses objetos: sua cauda. O artigo referente ao cometa gigante foi aceito na revista Astrophysical Journal Letters e está disponível no ArXiv.