Comer pítons pode salvar o ecossistema da Flórida, nos EUA

Mateus Marchetto
Autoridades dos Everglades afirmam que consumir carne de pítons-birmanesas pode ajudar a salvar o ecossistema da Flórida. (danportman/Pixabay)

Por volta dos anos 70, as pítons-birmanesas (Python bivittatus) eram animais de estimação um tanto comuns ao redor do mundo. A espécie, na verdade, é originária da Ásia e é umas das cinco maiores espécies de serpentes do mundo. Essas caçadoras rastejantes podem passar dos 6 metros de comprimento e pesar até 100kg. Contudo, essas cobras vêm causando danos irreparáveis nos Everglades – um grande pântano de milhares de hectares no sul da Flórida. Acontece que ainda nos anos 70 as pítons acabaram escapando para o ambiente natural e encontraram um ecossistema perfeito para a espécie: o sul da Flórida. Desde então esses animais já eliminaram até 99% de algumas espécies de mamíferos endêmicas.

A solução para esse problema nos últimos anos tem sido caçar esses animais. Aliás, o governo da Flórida oferece valores em dinheiro pela captura desses animais. Todavia, apesar de todos os esforços dos órgãos responsáveis, as pítons ainda estão à solta e aumentando sua população. A saída, segundo autoridades e pesquisadores, pode ser um tanto diferente: comer pítons pode ajudar a salvar os Everglades.

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(Ravini/Pixabay)

Só há um principal problema. Acontece que as pítons se tornaram predadores de topo de cadeia na Flórida, caçando até jacarés. Nesse sentido, predadores de topo são mais susceptíveis a contaminações do ambiente, uma vez que consomem muitos outros animais. A questão nos Everglades é o mercúrio. Esse metal acaba aumentando na natureza devido a atividade industrial de forma geral. Portanto, ainda são necessários alguns estudos para verificar se a carne das pítons é realmente segura.

A ameaça das espécies invasoras

Espécies invasoras hoje ameaçam profundamente a biodiversidade mundial. Atrás apenas da poluição e destruição de hábitats, elas são o maior motivo de extinção de espécies nativas no mundo. Em geral, uma espécie invasora é um animal ou planta que saiu de seu ecossistema nativo e levado para outro em uma região geográfica diferente. Acontece que na maioria dos casos, o animal invasor se adapta muito bem ao novo local, sem predadores nativos. Isso faz com que a população de invasores cresça astronomicamente.

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(Pixabay/Skitterphoto)

Esse é o caso, por exemplo, dos peixes-leão, nas águas do Caribe e, claro, as pítons-birmanesas no sul da Flórida. Esses animais acabam caçando descontroladamente outros animais menores, além de competir por alimento com outros animais parecidos. Isso faz com que o ecossistema fique desbalanceado e espécies nativas e muitas vezes endêmicas acabem extintas. Aliás, a fauna dos Everglades tem grande parte de animais endêmicos. Ou seja, essas espécies não existem em nenhum outro lugar do planeta.

O real impacto das pítons nos Everglades

Em 1992 havia um criadouro de pítons nas margens dos Parque Nacional dos Everglades que contava com mais de 900 filhotes desses animais. Após a passagem do furacão Andrew na região, o criadouro foi destruído e todos os filhotes acabaram livres bem na porta dos Everglades. Além do mais, muitos donos de pítons soltaram os animais – irresponsavelmente – na região, contribuindo ainda mais para o problema.

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(Pixabay/Kapa65)

Ademais, hoje acredita-se que possa haver dezenas ou centenas de milhares de pítons soltas nos pântanos da Flórida. Por esse motivo, a organização estadual South Florida Water Management District incentiva a caça desses animais na região. Portanto, após diversos estudos sobre o mercúrio na carne das serpentes, a organização também provavelmente passará a apoiar o consumo da carne desses bichos para ajudar a combater o desastre ecológico das áreas alagadas da reserva.

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