Por volta dos anos 70, as pítons-birmanesas (Python bivittatus) eram animais de estimação um tanto comuns ao redor do mundo. A espécie, na verdade, é originária da Ásia e é umas das cinco maiores espécies de serpentes do mundo. Essas caçadoras rastejantes podem passar dos 6 metros de comprimento e pesar até 100kg. Contudo, essas cobras vêm causando danos irreparáveis nos Everglades – um grande pântano de milhares de hectares no sul da Flórida. Acontece que ainda nos anos 70 as pítons acabaram escapando para o ambiente natural e encontraram um ecossistema perfeito para a espécie: o sul da Flórida. Desde então esses animais já eliminaram até 99% de algumas espécies de mamíferos endêmicas.
A solução para esse problema nos últimos anos tem sido caçar esses animais. Aliás, o governo da Flórida oferece valores em dinheiro pela captura desses animais. Todavia, apesar de todos os esforços dos órgãos responsáveis, as pítons ainda estão à solta e aumentando sua população. A saída, segundo autoridades e pesquisadores, pode ser um tanto diferente: comer pítons pode ajudar a salvar os Everglades.
Só há um principal problema. Acontece que as pítons se tornaram predadores de topo de cadeia na Flórida, caçando até jacarés. Nesse sentido, predadores de topo são mais susceptíveis a contaminações do ambiente, uma vez que consomem muitos outros animais. A questão nos Everglades é o mercúrio. Esse metal acaba aumentando na natureza devido a atividade industrial de forma geral. Portanto, ainda são necessários alguns estudos para verificar se a carne das pítons é realmente segura.
A ameaça das espécies invasoras
Espécies invasoras hoje ameaçam profundamente a biodiversidade mundial. Atrás apenas da poluição e destruição de hábitats, elas são o maior motivo de extinção de espécies nativas no mundo. Em geral, uma espécie invasora é um animal ou planta que saiu de seu ecossistema nativo e levado para outro em uma região geográfica diferente. Acontece que na maioria dos casos, o animal invasor se adapta muito bem ao novo local, sem predadores nativos. Isso faz com que a população de invasores cresça astronomicamente.
Esse é o caso, por exemplo, dos peixes-leão, nas águas do Caribe e, claro, as pítons-birmanesas no sul da Flórida. Esses animais acabam caçando descontroladamente outros animais menores, além de competir por alimento com outros animais parecidos. Isso faz com que o ecossistema fique desbalanceado e espécies nativas e muitas vezes endêmicas acabem extintas. Aliás, a fauna dos Everglades tem grande parte de animais endêmicos. Ou seja, essas espécies não existem em nenhum outro lugar do planeta.
O real impacto das pítons nos Everglades
Em 1992 havia um criadouro de pítons nas margens dos Parque Nacional dos Everglades que contava com mais de 900 filhotes desses animais. Após a passagem do furacão Andrew na região, o criadouro foi destruído e todos os filhotes acabaram livres bem na porta dos Everglades. Além do mais, muitos donos de pítons soltaram os animais – irresponsavelmente – na região, contribuindo ainda mais para o problema.
Ademais, hoje acredita-se que possa haver dezenas ou centenas de milhares de pítons soltas nos pântanos da Flórida. Por esse motivo, a organização estadual South Florida Water Management District incentiva a caça desses animais na região. Portanto, após diversos estudos sobre o mercúrio na carne das serpentes, a organização também provavelmente passará a apoiar o consumo da carne desses bichos para ajudar a combater o desastre ecológico das áreas alagadas da reserva.