À medida que as mudanças climáticas trazem alterações ao redor do planeta e na temperatura global, há um interesse crescente na capacidade adaptativa dos humanos a condições extremas de ambiente.
Uma nova pesquisa feita na Universidade Estadual da Pensilvânia indica que um clima extremamente quente e úmido pode matar pessoas com mais facilidade do que se pensava. Isso porque, nas teorias até então, acreditava-se que, quando a umidade está num máximo absoluto, o corpo humano conseguia suportar até a temperatura de 35°C.
O estudo agora aponta que esse número é de 31°C, o que aumentou o nível de preocupação dos cientistas.
Como o corpo reage num clima extremamente quente e úmido
Os humanos resfriam seu corpo através do resfriamento evaporativo; ou seja, o suor na nossa pele nos ajuda a reduzir nossa temperatura. Isso torna importante entender o conceito da temperatura de bulbo úmido, que incorpora tanto o calor como a umidade em sua definição.
Basicamente, quanto mais úmido for o ar em relação ao calor, mais difícil se torna o funcionamento da evaporação. Por exemplo: em climas quentes e secos, a nossa resistência acaba sendo significativamente maior.
Num ambiente completamente seco, o limiar humano de sobrevivência é, provavelmente, em torno de 50°C. Contudo, num ambiente completamente úmido, os novos resultados sugerem que a temperatura precisa chegar a apenas 31°C para que nossos corpos entrem em insolação.
Se houver uma exposição prolongada nessas condições, a morte é inevitável.
“Se nós soubermos quais são os limites superiores de temperatura e umidade, podemos preparar melhor as pessoas – especialmente as que estão mais vulneráveis – antes de uma onda de calor”, disse Larry Kenney, fisiologista da universidade.
“Isso pode significar uma priorização das pessoas doentes que precisam de cuidados, preparar alertas que podem avisar uma comunidade quando uma onda de calor estiver vindo, ou desenvolver um gráfico que forneça orientações sobre diferentes graus de temperatura e umidade”.
Como ocorreu o experimento
Para descobrir em qual temperatura de bulbo úmido os humanos alcançam o limite de insolação, os pesquisadores recrutaram 24 jovens adultos e saudáveis, com idade entre 18 e 34 anos. Isso porque pessoas nessa idade serviriam como uma boa base para o estudo, já que outros grupos possuem maior vulnerabilidade ao calor e umidade.
Antes de entrarem numa câmara com níveis ajustáveis de temperatura e umidade, os participantes consumiram um pequeno dispositivo de gravação para medir a temperatura corporal central, que então transmitiu essa informação aos pesquisadores via rádio.
Os pesquisadores pediram que eles lentamente pedalassem numa bicicleta ergométrica estacionária, enquanto a temperatura e umidade da câmara era, aos poucos, aumentada. Quando o corpo dos participantes não conseguia mais manter sua temperatura central, o experimento era interrompido.
Nessas condições, a média crítica de temperatura de bulbo úmido variou entre 30°C e 31°C, embora pudessem ser um pouco mais altas se a pessoa estivesse em completo descanso, sem mover nenhuma parte do corpo.
Os cientistas agora esperam uma replicação do estudo com participantes mais velhos, mas é preocupante que, mesmo para participantes saudáveis e jovens, o limite seja tão baixo quando comparado a estimativas prévias.
O que isso significa para as futuras gerações
Cientistas do clima suspeitam que, até o fim do século, o Paquistão, a Índia e partes do Sudeste Asiático, do Golfo Pérsico e da América Central irão sofrer níveis máximos de umidade em temperaturas além de 35°C com muito maior frequência, o que seria um clima extremamente quente e úmido para nossas condições corporais.
Desde 1979, a frequência de temperaturas de bulbo úmido acima de 31°C mais do que dobrou.
“Nossos resultados sugerem que nas partes úmidas do mundo, precisamos começar a nos preocupar – inclusive sobre pessoas jovens e saudáveis – quando a temperatura de bulbo úmido está acima de 31 graus”, disse Kenney.
“O clima está mudando, então vai haver mais – e mais severas – ondas de calor. A população também está mudando, então haverá mais adultos mais velhos. Por isso é muito importante estudar a confluência dessas duas mudanças”.
O estudo foi publicado no Journal of Applied Physiology.