Mesmo nos desertos mais secos da Austrália, onde a chuva pode sumir por meses ou até anos, a espécie Melanotaenia splendida tatei sobrevive. Até mesmo com climas extremos e populações pequenas, estes peixes sobrevivem e evoluem. Uma nova pesquisa, nesse sentido, pode ter descoberto como.
De acordo com o estudo, publicado no periódico International Journal of Organic Evolution, estes peixes-arco-íris (rainbowfish, do inglês) são muito mais tolerantes ao isolamento genético do que se pensava. Mesmo com populações pequenas e isoladas, estes animais conseguem manter a viabilidade da espécie.
![Melanotaenia spec](https://socientifica.com.br/wp-content/uploads/2022/02/Melanotaenia_spec.jpg)
Para chegar a essa conclusão, a equipe coletou 344 peixes da espécie em duas bacias de regiões áridas e semi-áridas da Austrália. Nestas regiões, os grupos de peixes vieram de 18 rios, lagoas ou poças isoladas, sem contato com outras populações. Alguns dos locais tinham maior fluxo de água e outros, fluxo bastante restrito.
Curiosamente, a análise genética dos peixes mostrou apenas 8 linhagens distintas, ao invés de 18. Ou seja, de alguma maneira a espécie tem cruzamentos entre populações em isolamento. O que a equipe suspeita, portanto, é que estes animais aproveitem os raros eventos de enchentes e chuvas para se reproduzirem ao máximo com as populações mais diferentes possíveis.
Isso, por conseguinte, garantiria a estabilidade genética da espécie em anos de isolamento. Estes peixes sobrevivem, portanto, graças a essa variabilidade acumulada
O problema do isolamento de uma população
Quando uma população de animais está isolada das outras, a consanguinidade começa a aumentar. Ou seja, o grau de parentesco entre os animais da população fica maior, o que deixa eles geneticamente mais parecidos.
Essa uniformidade genética, contudo, é um problema. Isso porque a população isolada tende a não conseguir se adaptar bem a mudanças muito bruscas no ambiente. Suponha, por exemplo, que uma bactéria ataque uma população de cobras. Se as cobras forem muito parecidas, a chance de todas elas serem bastante vulneráveis à bactéria é maior.
Assim, mesmo um simples microrganismo pode acabar com uma população inteira. O mesmo princípio vale, ademais, para doenças genéticas.
![1438px Melanotaenia herbertaxelrodi](https://socientifica.com.br/wp-content/uploads/2022/02/1438px-Melanotaenia_herbertaxelrodi-932x700.jpg)
Assim, era de se esperar que os peixes isolados por anos em pequenos buracos profundos tivessem uma consanguinidade altíssima. Isso os deixaria muito mais próximos da extinção do que populações maiores e mais diversas.
Contudo, não é isso que ocorre com esses peixes que sobrevivem no deserto. Genes que aumentam a sensibilidade à luz, salinidade e outras condições do ambiente também estavam presentes nos grupos mais isolados. Isso indica, mais uma vez, a capacidade maior de exploração quando é possível sair do mesmo hábitat.
A pesquisa está disponível no periódico International Journal of Organic Evolution.