Como estes peixes sobrevivem ao isolamento e clima do deserto?

Mateus Marchetto
Imagem: Emőke Dénes / Wikipedia Commons

Mesmo nos desertos mais secos da Austrália, onde a chuva pode sumir por meses ou até anos, a espécie Melanotaenia splendida tatei sobrevive. Até mesmo com climas extremos e populações pequenas, estes peixes sobrevivem e evoluem. Uma nova pesquisa, nesse sentido, pode ter descoberto como.

De acordo com o estudo, publicado no periódico International Journal of Organic Evolution, estes peixes-arco-íris (rainbowfish, do inglês) são muito mais tolerantes ao isolamento genético do que se pensava. Mesmo com populações pequenas e isoladas, estes animais conseguem manter a viabilidade da espécie.

Melanotaenia spec
Imagem: opencage / Wikipedia Commons

Para chegar a essa conclusão, a equipe coletou 344 peixes da espécie em duas bacias de regiões áridas e semi-áridas da Austrália. Nestas regiões, os grupos de peixes vieram de 18 rios, lagoas ou poças isoladas, sem contato com outras populações. Alguns dos locais tinham maior fluxo de água e outros, fluxo bastante restrito.

Curiosamente, a análise genética dos peixes mostrou apenas 8 linhagens distintas, ao invés de 18. Ou seja, de alguma maneira a espécie tem cruzamentos entre populações em isolamento. O que a equipe suspeita, portanto, é que estes animais aproveitem os raros eventos de enchentes e chuvas para se reproduzirem ao máximo com as populações mais diferentes possíveis.

Isso, por conseguinte, garantiria a estabilidade genética da espécie em anos de isolamento. Estes peixes sobrevivem, portanto, graças a essa variabilidade acumulada

O problema do isolamento de uma população

Quando uma população de animais está isolada das outras, a consanguinidade começa a aumentar. Ou seja, o grau de parentesco entre os animais da população fica maior, o que deixa eles geneticamente mais parecidos.

Essa uniformidade genética, contudo, é um problema. Isso porque a população isolada tende a não conseguir se adaptar bem a mudanças muito bruscas no ambiente. Suponha, por exemplo, que uma bactéria ataque uma população de cobras. Se as cobras forem muito parecidas, a chance de todas elas serem bastante vulneráveis à bactéria é maior.

Assim, mesmo um simples microrganismo pode acabar com uma população inteira. O mesmo princípio vale, ademais, para doenças genéticas.

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Imagem: Klaus Rudloff / Wikipedia Commons.

Assim, era de se esperar que os peixes isolados por anos em pequenos buracos profundos tivessem uma consanguinidade altíssima. Isso os deixaria muito mais próximos da extinção do que populações maiores e mais diversas.

Contudo, não é isso que ocorre com esses peixes que sobrevivem no deserto. Genes que aumentam a sensibilidade à luz, salinidade e outras condições do ambiente também estavam presentes nos grupos mais isolados. Isso indica, mais uma vez, a capacidade maior de exploração quando é possível sair do mesmo hábitat.

A pesquisa está disponível no periódico International Journal of Organic Evolution.

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