Cientistas traduziram uma teia de aranha em música e o som é belíssimo

Dominic Albuquerque

As aranhas enxergam o mundo de uma maneira bem diferente: através das vibrações. Para fazer sentido do mundo ao redor, elas dependem do toque, e seus corpos e pernas são cobertos de minúsculos pelos e fendas que as permite distinguir entre diferentes tipos de vibração. Uma teia de aranha, então, possui diversas vibrações.

Cientistas usaram isso para criar música.

Quando uma presa cai na teia, ela faz uma vibração diferente de quando outra aranha se aproxima, ou quando uma brisa bate, por exemplo. Cada fio da teia, então, produz um tom diferente.

Alguns anos trás, cientistas traduziram a estrutura tridimensional de uma teia de aranha em música, trabalhando com o artista Tomás Saraceno para criar um instrumento musical interativo, o qual chamaram de Spider’s Canvas (Tela da Aranha).

Depois disso, a equipe refinou o trabalho, adicionando um componente interativo de realidade virtual que permite as pessoas interagirem com a teia.

Essa pesquisa, diz a equipe, vai ajudar não apenas a compreender melhor a arquitetura tridimensional de uma teia de aranha, mas também poderia nos ajudar a aprender a linguagem vibracional dos aracnídeos.

“A aranha vive num ambiente de cordas vibrantes”, explicou o engenheiro Markus Buehler, do MIT. “Elas não enxergam tão bem, então sentem o mundo através das vibrações, cada uma com frequências diferentes”.

Desvendando a língua das aranhas

Quando pensamos em teias de aranha, logo vem a mente as da tecelã de orbes, que são planas e arredondadas, com raios radiais em torno dos quais a aranha constrói uma rede espiral. Mas a maioria das teias, contudo, não são desse tipo, e sim tridimensionais, como as teias de folhas, teias emaranhadas e teias de funil, por exemplo.

Para explorar a estrutura desses tipos de teia, a equipe abrigou uma aranha da espécie Cyrtophora citricola num invólucro retangular, e esperou até que ela preenchesse o espaço com uma teia tridimensional.

Depois disso, eles usaram um laser de folha para iluminar e criar imagens de alta definição de seções transversais 2D da teia.

Um algoritmo especializado então formou a arquitetura 3D da teia através dessas seções 2D. para transformar isso em música, diferentes frequências sonoras foram associadas a diferentes fios. As notas geradas, então, foram tocadas em padrões de acordo com a estrutura da teia.

Eles também escanearam a teia enquanto ela estava sendo tecida, traduzindo cada etapa do processo em música. Isso significa que as notas mudam de acordo com as mudanças ocorridas na estrutura da teia, e o ouvinte pode ouvir todo o processo de construção.

Tocando música na teia de aranha

O Spider’s Canvas permite que os ouvintes escutem a música da aranha, mas a realidade virtual criada, onde os usuários podem entrar e tocar nos fios por si mesmos, adiciona uma nova camada à experiência, disseram os pesquisadores.

A explicação é fascinante, e ilustra como as aranhas processam o ambiente ao redor:

“O ambiente de realidade virtual é realmente intrigante, porque seus ouvidos vão capturar fatores estruturais que você pode ver, mas não reconhecer imediatamente”, Buehler explicou. “Ao escutar e ver ao mesmo tempo, você pode começar a entender o ambiente nos quais as aranhas vivem”.

Essa realidade virtual permite que diversas pesquisas sejam feitas, como descobrir o que ocorre quando se mexe numa das partes da teia, ou o que ocorre quando um fio é quebrado ou esticado.

Mais fascinante ainda é que a pesquisa pode ajudar a “rotular” as diferentes vibrações usando um algoritmo, traduzindo as vibrações em “presa encurralada”, “teia sob construção” ou ainda “outra aranha chegou ao local com intenções reprodutivas”.

Com animação, o cientista ainda falou:

“Se as expusermos a certos padrões de ritmos e vibrações, será que podemos afetar o que elas fazem, ou começarmos a nos comunicar com elas? Essas são ideias realmente empolgantes”.

A primeira pesquisa da equipe foi publicada no Journal of the Royal Society Interface.

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