Colônia de aranhas caça presas em grupo

Dominic Albuquerque

Descobertas recentes revelaram que as teias de aranhas podem funcionar como tímpanos externos. Mas sua capacidade, segundo um novo estudo, vai além disso: aranhas que vivem em colônias usam a estrutura da teia para coordenarem um ataque em conjunto perfeitamente sincronizado.

A colônia de aranhas caça presas em grupo, essa sendo até 700 vezes mais pesadas que uma aranha individual. Um número pequeno de espécies é capaz dessa proeza: cerca de 20 das 50.000 espécies conhecidas de aranha vivem em colônias.

Uma delas, a Anelosimus eximius, habita em comunidades extremamente largas, com até 1000 aranhas que trabalham juntas para criar teias que alcançam vários metros de extensão.

Quando a presa cai na teia, as aranhas sincronizam seu ataque, movendo-se como uma só até chegarem ao alvo. Para entender melhor como isso funciona, pesquisadores da Universidade de Toulouse, França, analisaram duas colônias da A. eximius, complementando o estudo com análises de computador.

”O que é fantástico é que não há nenhum papel de liderança entre essas aranhas”, disse Raphael Jeanson, pesquisador no Research Center on Animal Cognition da universidade e autor sênior do estudo.

Como ocorreu o estudo da colônia de aranhas

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Colônia da espécie Anelosimus eximius na Guiana Francesa. Imagem: Raphaël Jeanson/CNRS

Jeanson e os outros pesquisadores imitaram os movimentos da presa criando vibrações em diferentes partes das teias, filmando os movimentos das aranhas enquanto isso. Posteriormente, a equipe analisou a movimentação com minúcia, descobrindo que as aranhas interrompem seu movimento na direção da presa — e depois o recomeçam novamente — ao mesmo tempo.

“Quando a presa cai na teia, isso engatilha o movimento das aranhas”, Jeanson contou. “Mas depois de um tempo, todas elas param por alguns milissegundos antes de voltarem a se mover outra vez”.

Contudo, isso não foi o suficiente para explicar a sincronia da movimentação. Para isso, os cientistas precisaram de um modelo feito no computador, que revelou que, ainda que as vibrações da presa desencadeiem o movimento inicial, são as vibrações feitas pela colônia de aranhas que permitem sua coordenação de ataque.

As aranhas só permanecem paradas até serem capazes de distinguir as vibrações de outras aranhas da vibração que vem da presa. A interrupção momentânea proporciona o silêncio necessário para localizar a vítima apropriadamente.

colônia de aranhas
A espécie Anelosimus eximius vive em colônias que podem conter centenas de aranhas. Imagem: Bernard Dupont, CC BY-SA 2.0 , via Wikimedia Commons

“Dependendo do tamanho da presa – e das vibrações que a presa cria na teia – as aranhas precisam ficar mais ou menos quietas em busca de localizar a presa sem serem atrapalhadas pelas vibrações das outras aranhas se movimentando ao redor”, disse Jeanson. “Nós não sabemos como funciona exatamente, mas quando uma delas se move, todas as outras se movem também. É um efeito bola de neve”.

Essa caça sincronizada permite as aranhas caçarem borboletas, gafanhotos e outros insetos voadores, que têm dificuldade de se libertar da teia.

A colônia de aranhas produz teias que não são grudentas, então é necessário que ajam rapidamente para evitar que a presa escape. A atitude de se mover e parar continuamente pode prolongar o tempo da caçada, mas isso pode ser positivo, segundo a pesquisa.

“Se todas elas chegam ao mesmo tempo, há uma orça numérica que é muito benéfica se comparada à chegada desordenada e individual de aranhas que se perderam na teia no meio do caminho. Há uma vantagem clara na sincronização, apesar do custo do tempo de espera”, explicou o pesquisador.

As aranhas também sincronizam o movimento quando liberam uma cola imobilizadora das suas pernas e mordem a presa, injetando um veneno.

O estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

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