Segundo uma nova pesquisa que redesenha as teias de aranhas como “tímpanos externos”, os aracnídeos podem ter ouvidos muito além do que se esperaria. No estudo, um dos autores demonstra como uma aranha tecelã de orbes, da família Araenidae, a Larinioides sclopetarius, pode direcionar sua percepção sonora para uma estrutura externa ao próprio corpo.
Conforme a pré-impressão do estudo, que ainda não foi revisado, mas disponível para leitura na BioRxiv, a constituição fina das teias de aranhas tecelãs de orbes não apenas age como uma antena acústica para detectar sons, como também é um dos “tímpanos” mais eficientes encontrados na natureza.
Na história evolucionária, os tímpanos emergiram nas espécies terrestres ao passo em que elas precisavam registrar barulhos sutis, vindos do ar. A maioria humana possui um em cada orelha, e ele separa a parte interna da externa. No caso de danificação dos tímpanos, a audição é gravemente afetada.
Para invertebrados sem esse aparato em seus corpos, longas e finas estruturas brotaram para detectar sons oriundos do ar. Esses órgãos sonoros então se tornaram uma parte dos corpos desses animais.
As teias de aranhas no estudo das tecelãs de orbes
A nova pesquisa analisou as teias de aranhas geradas espontaneamente em laboratórios, em estruturas de madeira, usando a L. sclopetarius. Os pesquisadores realizaram gravações em vídeo para observar se ou como as aranhas respondiam a sons acústicos do ar vindos de diferentes distâncias e direções.
Os registros mostraram que a postura das aranhas mudava até mesmo com sons emitidos de distâncias relativas, a três metros da teia. As aranhas se agachavam, achatavam seus corpos, exibiam as patas dianteiras e mudavam de direção abruptamente em resposta aos sons.
Diversas espécies de aranhas na família Araneidae vivem em colônias, normalmente próximas a fontes abundantes de alimento. Os benefícios desse comportamento incluem o compartilhamento de linhas de teia para capturar presas, o compartilhamento de presas que não estão em baixo suprimento e comunicação.
Os pesquisadores disseram que predadores em potencial das aranhas, como pássaros, sapos e grilos podem ser bem barulhentos (sons acima de 80 dB), mas os experimentos laboratoriais demonstraram que as aranhas possuem um limiar auditivo inferior a 68 dB. Com isso em mente, eles preveem que as aranhas devem conseguir detectar presas e predadores a uma distância maior que dez metros.
O estudo ainda vai passar por revisão, mas, se o resultado se manter, ele pode indicar que as aranhas conseguiram superar os limites de seus corpos ao criar um tímpano externo que pode alcançar até dez mil vezes uma superfície em área quando comparado a elas.
Além do tamanho enorme, as vantagens de ouvir com sedas reparáveis e de produção sustentável significa que as aranhas podem ajustar essas antenas gigantes de acordo com suas necessidades.
Essa qualidade das teias de aranhas atrai a atenção de estudiosos, que analisam a possibilidade de replicar o seu uso.
“Biólogos e cientistas de materiais ainda estão descobrindo novas propriedades de sedas de aranhas que podem ser reaproveitadas como biomaterial e implantadas em aplicações humanas práticas”, dizem os pesquisadores em seu estudo.
“A ‘terceirização’ e o ‘superdimensionamento’ da função auditiva em aranhas fornece características únicas para estudos acerca do sensoriamento estendido e regenerativo, e para projetar novos detectores de fluxo acústico para medição e manipulação precisas da dinâmica de fluidos”.
Segundo os dados coletados pelo Spider ID, as aranhas tecelãs de orbes já foram vistas em 81 países ao redor do mundo.