Muitos animais passam muito tempo cuidando dos filhotes. Algumas espécies, inclusive, dedicam a vida toda para isso. Contudo, as aranhas Stegodyphus dumicola têm um nível mais radical de cuidado parental. Acontece que essas e algumas outras espécies de aranhas se alimentam do corpo da mãe logo após o nascimento.
Esse comportamento é chamado de matrifagia e é bastante raro na natureza. Isso acontece apenas com alguns invertebrados, sobretudo aracnídeos.
Após a reprodução, as fêmeas preparam o ninho para colocar os ovos. Elas cuidam dos ovos até que eles eclodam e quando isso ocorre elas começam a secretar substâncias nutritivas. Esses compostos estimulam os filhotes a picar e envenenar a mãe. A ninhada, então, se alimenta de todos os nutrientes do corpo da mãe até atingirem certa maturidade.
A primeira vista pode parecer absurdo que um filhote pratique canibalismo com a própria mãe. No entanto, essa estratégia evolutiva funciona bem no caso das aranhas. Essa é a forma que a espécie desenvolveu para manter a população longe da extinção.
O investimento de tempo dos pais varia de espécie para espécie
Como dito antes, cada espécie tem uma estratégia que funcionou para a sua sobrevivência. O cuidado parental é uma parte essencial para o mantimento de uma população. Contudo, esse cuidado pode variar muito entre os animais. Mamíferos como os elefantes, por exemplo, têm apenas um filhote em um intervalo de vários anos. Isso permite que as mães cuidem e acompanhem o filhote por mais tempo, o que aumenta a chance de sucesso do animal.
Coelhos, por outro lado, podem ter dezenas de filhotes em um curto espaço de tempo. Nesse caso, por outro lado, os pais cuidam por menos tempo dos filhotes. A taxa de mortalidade dos animais, nesse caso, é muito alta. Todavia, como as ninhadas são frequentes, a espécie consegue se manter.
Algumas espécies de moscas, ademais, vivem por apenas 48 horas. Esse é o tempo suficiente apenas para que o inseto se reproduza e coloque ovos.
Algumas dessas estratégias podem parecer absurdas sob o ponto de vista humano. Contudo, evolutivamente, tudo que mantenha a espécie viva será beneficiado pela seleção natural. Vale lembrar que o cuidado parental de cada animal também depende profundamente do ambiente no qual ele vive.
Mas afinal, por que as aranhas se alimentam das próprias mães
Aqui entra a questão evolutiva, mais uma vez. As aranhas do gênero Stegodyphus em geral têm um ciclo de vida muito curto. Portanto, é mais vantajoso para a espécie se cada fêmea tiver vários filhotes e também se esses filhotes tiverem muitos nutrientes. Esses nutrientes, no caso, vêm do corpo da mãe.
Além dessa característica bizarra, esses aracnídeos também são aranhas sociais. Ou seja, diferentemente das outras espécies de aranhas que vivem solitárias, as Stegodyphus vivem em colônias. Aliás, muitas fêmeas da colônia acabam não conseguindo se reproduzir. Essas fêmeas frequentemente se sacrificam também para alimentar os filhotes de outras aranhas da mesma colônia.
Muitos estudos ainda indicam que quando acontece o sacrifício da mão, o sucesso dos filhotes é de mais de 90%. Caso contrário, apenas 40% dos filhotes tendem a sobreviver.
O artigo científico foi publicado no periódico The Journal of Arachnology