A Copa do Mundo colocará o Catar no radar dos cientistas?

Daniela Marinho

Iniciada no dia 20 de novembro no estádio Al Bayt no Catar, a Copa do Mundo masculina da FIFA 2022 tem levado a atenção mundial para o país árabe. Localizado no Oriente Médio, mais precisamente na península arábica na Ásia Continental, o Catar faz fronteira com a Arábia Saudita e corresponde a uma área de aproximadamente 11.610 km² até o norte do Golfo Pérsico.

Pequeno em extensão – seu território é menor do que o do estado brasileiro de Sergipe – mas grande economicamente, o Catar tem a terceira maior reserva de gás natural da Terra, tendo à frente da sua economia a exportação de petróleo. Além disso, é uma das nações mais ricas do mundo, apresentando o sexto melhor PIB do mundo [mais de US$ 85 mil]. Diante de tamanha expressividade e riqueza, é possível que o campeonato de futebol coloque o Catar no radar dos cientistas. Entretanto, as questões dos direitos humanos poderá ser um desafio nada fácil de superar.

Ambições científicas do Catar

Além dos fãs de futebol, a Copa do Mundo levará ao Catar uma maior conscientização a respeito do desenvolvimento do seu programa científico. Com uma população de 2,9 milhões de pessoas, o país tem se tornado um importante centro de ciência, pesquisa e educação.

A microbiologista e imunologista da Qatar University, nos arredores de Doha, Susu Zughaier, diz que “Não poderia ser um momento melhor para o Catar se anunciar no cenário internacional como produtor de conhecimento e ciência”. Corroborando com Zughaier, o economista político do Arab Gulf States Institute em Washington DC, Robert Mogielnicki, afirma que “O Catar é um lugar realmente pequeno com grandes ambições […] Eles têm uma quantidade enorme de recursos financeiros para ajudá-los a alcançar várias estratégias e iniciativas de desenvolvimento.”

A Education City do Catar

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Réplica do troféu da Copa do Mundo da FIFA na Education City, o campus multibilionário de ciência e educação do Catar. Imagem: Sidhik Keerantakath/Eyepix Group/Future Publishing

Em se tratando de iniciativa, o Catar possui a Education City – Cidade da Educação – um campus com 12 quilômetros quadrados no terceiro maior município do estado, Al Rayyan, com capacidade para 10 mil estudantes e 5 mil funcionários.

Segundo Sarah Al-Zainal, porta-voz da Cidade da Educação, diz que “A Education City é o principal braço da fundação Catar [Qatar Foundation, um grupo sem fins lucrativos liderado pelo estado para educação, ciência e desenvolvimento comunitário] órgão governamental voltado para projetos de ensino e pesquisa. Hoje, abrigamos 13 escolas, entre cursos de ensino médio e graduação, incluindo parcerias com algumas das melhores universidades dos Estados Unidos”.

Por seu tamanho gigantesco, a Education City abriga um dos estádios da Copa do Mundo, possuindo também prédios e laboratórios de última geração os quais abrigam filiais de sete universidades estrangeiras. Alguns desses laboratórios foram responsáveis por grandes contribuições durante a pandemia pela Covid-19; outros agora estão prontos para fazer pesquisas em medicina e tecnologia.

Repressão dos direitos humanos

Se por um lado a educação e a ciência possuem um enorme potencial de desenvolvimento; por outro lado, o avanço nessas áreas é prejudicado pelo contexto histórico que o país tem com relação aos direitos humanos, sobretudo relativo à manutenção de leis repressivas, como a tutela masculina que sujeita as mulheres, bem como as normas culturais que envolvem gênero e sexo.

Desse modo, a atividade sexual extraconjugal e entre pessoas do mesmo sexo é ilegal e punível com até sete anos de prisão- a pena máxima. A lei Sharia determina que uma pena de morte por apedrejamento seja imposta para a prática sexual entre homens. De modo semelhante, os direitos LGBTQIA+ são completamente inexistentes.

A inexistência e o não reconhecimento de tais direitos, fizeram com que lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros do Catar fossem espancados e assediados em setembro pelas forças do Departamento de Segurança Preventiva do Catar, nas vésperas da Copa.

Nasser Mohamed, um médico do Catar e fundador da Alwan Foundation, um grupo sem fins lucrativos que coleta dados sobre comunidades LGBTQIA+ em países do Golfo, destaca que o país expulsa talentos nativos e desestimula os estrangeiros que pensam em se mudar para lá por conta dessas questões. Para ele, atuante na causa, se assumir publicamente como gay poderia gerar uma maior conscientização e mudanças positivas no país. A repercussão pelo Catar parece ter sido silenciosa, mas Mohamed preferiu buscar asilo nos Estados Unidos. A Fifa, no entanto, anunciou que cancelará os contratos da Copa do Mundo de 2022 de qualquer hotel no Catar que não permita a hospedagem de casais do mesmo sexo.

Embora o mundo esteja se voltando atualmente para o Catar por conta do torneio, ao ser finalizado, os fãs voltarão para casa, enquanto o país deverá rever as questões relacionadas a essa população, visto que ela necessita de proteções básicas contra a violência e a discriminação. Caso contrário, o Catar terá cada vez mais dificuldades em atrair talentos e tornar-se referência global de ciência.

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