Satélite registra predação de fêmea grávida de tubarão por criatura maior

Pela primeira vez, cientistas conseguem identificar predação entre grandes peixes, como tubarões

Daniela Marinho
A fêmea de tubarão-sardo prenhe, sujeito do estudo, após sua libertação após marcação. Imagem: Jon Dodd

A bióloga marinha Brooke Anderson mal podia acreditar no que seus olhos estavam vendo. Algo claramente não fazia sentido nos dados recebidos da etiqueta de satélite que ela havia colocado meses atrás em uma fêmea de tubarão-sardo (Lamna nasus) de dois metros e meio, que estava prenhe.

Anderson ficou perplexa ao notar uma elevação incomum na temperatura registrada pelo dispositivo e ao perceber que a etiqueta havia se desprendido antes do previsto. “Foi realmente surpreendente, observar aquele aumento de temperatura e perceber que a etiqueta saiu antes do tempo”, disse Anderson. “Eu continuava insistindo para mim mesma que aquilo não poderia ser um caso de predação.”

Mesmo assim, ela buscou outras explicações para o ocorrido. Será que a elevação da temperatura poderia ser explicada por uma variação no ambiente aquático ou pelo aumento da temperatura corporal do tubarão após sua morte? Ela hesitava em aceitar a hipótese de que o animal tivesse sido atacado e devorado por um predador maior. Contudo, essa foi a constatação final.

O estudo, publicado no periódico Frontiers in Marine Science, descreve o primeiro caso documentado de predação de um tubarão-sardo. No entanto, a pergunta que permanece é: o que poderia ter matado e consumido um tubarão de tamanho tão imponente?

Tubarões poderosos

Os tubarões-sardo são animais robustos e poderosos que habitam o Oceano Atlântico, o Pacífico Sul e o Mar Mediterrâneo. Eles podem atingir até 3,6 metros de comprimento e pesar cerca de 225 quilos.

Esses tubarões incríveis têm parentesco próximo com os famosos tubarões-brancos (Carcharodon carcharias) e com os rápidos tubarões-mako (Isurus oxyrinchus). Além de seu porte impressionante, os tubarões-sardo são conhecidos por sua longevidade, com alguns indivíduos vivendo até 65 anos.

Assim como outros grandes tubarões, o tubarão-sardo tem um modo de reprodução fascinante. Mesmo sendo peixes, eles dão à luz filhotes vivos e praticam a oofagia. Durante a gestação, as fêmeas produzem e ovulam ovos não fertilizados que são consumidos pelos filhotes em desenvolvimento dentro do útero, garantindo sua nutrição até o nascimento.

Anderson explica que “Isso os ajuda a serem realmente grandes e pesados ​​ao nascer, o que esperançosamente lhes dá uma pequena vantagem em termos de sobrevivência.”

Morte de fêmeas causam muito prejuízo para a espécie

As fêmeas de tubarão-sardo geralmente não começam a se reproduzir antes dos 13 anos de idade. Quando atingem a maturidade, elas dão à luz, em média, quatro filhotes a cada um ou dois anos, após um período de gestação que dura entre oito e nove meses.

Devido à baixa taxa de reprodução desses tubarões, a perda de uma fêmea pode ter um impacto significativo no crescimento da população. Com uma reprodução lenta, suas populações têm dificuldade em se recuperar rapidamente de ameaças como a sobrepesca, captura acidental e a perda e degradação de seus habitats, desafios que enfrentam atualmente.

Na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN, os tubarões-sardo do Atlântico Noroeste estão classificados como vulneráveis, enquanto as populações do Atlântico Nordeste e do Mediterrâneo são consideradas criticamente ameaçadas. Se outros predadores também estiverem caçando esses tubarões, isso pode aumentar ainda mais o risco de declínio populacional.

Suspeitos

A equipe de pesquisadores suspeita que um grande tubarão-branco ou um tubarão-mako-de-barbatana-curta possa ter sido responsável por atacar e devorar o tubarão-sardo adulto, uma vez que ambas as espécies são suficientemente grandes e estavam presentes na região naquele período do ano.

Apesar das orcas serem predadoras de topo e conhecidas por caçarem grandes tubarões-brancos, elas não costumam ser vistas nas águas das Bermudas, o que as torna uma opção menos provável.

Dentre essas duas espécies, a equipe acredita que o tubarão-branco é o candidato mais provável, já que os padrões de movimentação típicos dos makos de barbatana curta — que incluem rápidos mergulhos verticais entre a superfície e águas profundas — não foram detectados pelos dados do PSAT.

“A descoberta de que uma de nossas tubarões-sardo prenhes foi predada nos pegou de surpresa”, comentou Anderson.

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