Mistério de mulher do sec. 3 enterrada de bruços com um buraco de prego no crânio revelado

Dominic Albuquerque
O sepultamento incomum teria sido fruto das crenças antigas sobre doenças. Imagem: A.M. Costa

O estranho enterro de uma jovem mulher, colocada de bruços na cova, e que possivelmente teve uma unha enterrada em seu crânio no período em que morreu na Sardenha, Itália, há mais de 2 mil anos, pode ser resultado das antigas crenças acerca da epilepsia e seu contágio, segundo novo estudo.

Ser enterrado de bruços pode ser indício de que o indivíduo sofria com alguma doença. O buraco de prego no crânio, por sua vez, pode ser resultado de um remédio usado para prevenir a epilepsia de se espalhar para os outros, uma crença médica da época, segundo novo estudo a ser publicado na revista Journal of Archaeological Science: Reports.

A epilepsia é hoje conhecida como uma condição cerebral, que não pode ser transmitida para outras pessoas. Contudo, na época a crença era de que uma doença capaz de levar alguém ao túmulo poderia se tornar um problema para toda uma comunidade.

O estranho sepultamento foi encontrado numa tumba na Necrópole do Monte Luna, uma colina na parte sul da Sardenha. A região do cemitério foi usado pelos povos púnicos após o século VI AEC, e continuou em uso até o século II AEC.

A necrópole do Monte Luna foi escavada na década de 1970, e o último estudo baseia-se em fotografias da tumba e um novo exame do esqueleto da mulher encontrada.

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O último estudo encontrou evidências de uma lesão bruta na cabeça da mulher, possivelmente oriunda de uma queda, e um buraco quadrado que parece ter sido feito por um prego. Imagem: R. Paba

A cerâmica presente no túmulo sugere que ela foi enterrada na última década do século III AEC, ou nas primeiras décadas do século II AEC, período em que a Sardenha, centro da cultura púnica ou fenícia por centenas de anos, ficou sob jugo romano após o fim da Primeira Guerra Púnica contra Cartago, que ocorreu entre 264 AEC e 241 AEC.

Uma nova análise do esqueleto – baseada na pélvis, dentes e outros ossos – confirmou uma estimativa anterior de que ela tinha entre 18 e 22 anos quando morreu.

A análise também demonstrou que ela sofreu trauma no crânio pouco antes ou próximo ao momento em que morreu. Os arqueólogos encontraram evidências de dois tipos de trauma: trauma direto, que poderia ter ocorrido durante uma queda acidental, como durante um ataque epiléptico, e uma lesão aguda na forma de um buraco quadrado no crânio, consistente com o que poderia ter sido um impacto dos antigos pregos romanos.

Pregos desse tipo foram encontrados em diversos sítios arqueológicos na Sardenha.

Por que os antigos colocavam pregos nos crânios dos mortos?

Dario D’Orlando, coautor do estudo, arqueólogo e historiador da Universidade de Cagliari, na Sardenha, contou ao Live Science que a lesão aguda com o prego poderia ter sido causada após a morte da mulher, de forma a prevenir o “contágio” da epilepsia.

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Os autores do estudo sugerem que o crânio da mulher pode ter sido perfurado com um prego com uma seção quadrada, como o exibido na imagem. Imagem: G. Lai

Tal tratamento pode ter se baseado na antiga crença grega de que algumas doenças eram causadas por “miasma”, uma contaminação do ar (ou do espírito).

O mesmo remédio é descrito no primeiro século da Era Comum pelo general romano e historiador Caio Plínio Segundo, que recomendava pregar as partes do corpo de um indivíduo morto após ataques epilépticos, de forma a prevenir o contágio, relatam os autores do estudo.

D’Orlando sugeriu que a prática de colocar um prego no crânio, e possivelmente sepultar a mulher de bruços, poderia ser explicado pela introdução de ideias romanas, fortemente influenciadas por antigas ideias gregas, na região rural da Sardenha.

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