Relatório alerta que emissões globais de CO2 estão cozinhando o planeta

Daniela Marinho
Planeta Terra em chamas. Imagem: Depositphotos

O dióxido de carbono ou gás carbônico é encontrado naturalmente na atmosfera, visto que ele é produzido, entre outros fatores, pela fermentação dos líquidos e respiração dos animais. No entanto, a ação antrópica com relação à queima dos combustíveis fósseis tem, mais uma vez, colocado o planeta numa posição alarmante em se tratando do clima. De acordo com um relatório, as emissões globais de CO2 têm “cozinhado” a Terra.

Além disso, não há sinais de diminuição, o que torna o cenário ainda mais preocupante. Isso porque os piores impactos da mudança climática serão vistos quando as temperaturas globais subirem mais de 1,5 grau Celsius. Contudo, as emissões de CO2 são tão altas que esse limite deverá ser ultrapassado dentro de dez anos.

Emissões globais de CO2 acendem alerta, mas não há sinalização de diminuição

O relatório Global Carbon Budget, elaborado por mais de 100 cientistas, foi publicado na revista Earth System Science Data, e trata-se de uma atualização realizada todos os anos que consiste no rastreio das emissões globais de CO2. Na versão atual, as estimativas para 2022 não são positivas, estimando o CO2 atmosférico em 417,2 partes por milhão (ppm) – 51% acima dos níveis pré-industriais – e as emissões globais em 40,6 bilhões de toneladas (36,8 bilhões de toneladas métricas).

Nesse contexto, as emissões globais de CO2 não atingiram a meta crítica de limitar o aquecimento terrestre a 1,5 graus Celsius, pois não houve diminuição considerável. O que está prestes a acontecer, caso o aquecimento global caminhe com a mesma força atual, é o cruzamento catastrófico das temperaturas médias globais em apenas uma década.

Para que fosse possível alcançar emissões líquidas zero até 2050, as reduções anuais de CO2 deveriam ser drásticas, como ocorreu durante a fase mais complicada da pandemia pela Covid-19, na qual as economias estagnaram e voos em todo o mundo foram reduzidos de forma significativa.

Segundo Pierre Friedlingstein, presidente de modelagem matemática de sistemas climáticos na Universidade de Exeter, no Reino Unido, e principal autor do relatório, “As emissões de CO2 que causam o aquecimento do planeta não mostram sinais de diminuição”.

Combustíveis fósseis

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Imagem: Canva

Os contribuintes mais consideráveis são, novamente, os combustíveis fósseis, uma vez que o uso global de petróleo aumentou 2,2% em relação a 2021, em grande parte devido à recuperação do setor de aviação pós pandemia. Por outro lado, o uso de carvão em todo o mundo também aumentou 1%.

Entretanto, o uso de combustíveis fósseis não é semelhante entre os países: enquanto as emissões aumentaram nos Estados Unidos e na Índia em 2022, as emissões caíram na China e na União Europeia, de acordo com os dados do relatório.

Jan Ivar Korsbakken, pesquisador sênior do Center for International Climate and Environmental Research em Oslo, Noruega, e coautor do estudo, assinala que os picos na Índia estão relacionados ao desenvolvimento do país: “A Índia tem, de longe, a maior recuperação a fazer em termos de infraestrutura, construção e consumo de energia per capita, o que significa um rápido crescimento no consumo de energia que ainda não pode ser totalmente coberto por energia renovável“.

Outros contribuintes relevantes

Além da representatividade significativa dos combustíveis fósseis – já que respondem por cerca de 90% das emissões totais de CO2 – há outros contribuintes relevantes para o cenário alarmante, como o desmatamento.

Indonésia, Brasil e República Democrática do Congo, juntos, contribuem com 58% das “emissões de uso da terra” do mundo. O termo é associado, entre outras coisas, aos impactos do desmatamento, de incêndios florestais, das queimadas agrícolas e das emissões de gado.

Dessa forma, as linhas de defesa, como as florestas, podem ser violadas muito em breve. “Temperaturas mais quentes e mudanças nos padrões climáticos podem enfraquecer essa absorção de CO2 […] Estimamos que a mudança climática na última década tornou a absorção cerca de 10% menor do que seria de outra forma. Este é mais um risco ao qual estamos nos expondo por não cortarmos as emissões rapidamente”, disse Korsbakken.

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