Dinossauros não tinham sangue frio, aponta estudo

Dominic Albuquerque
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Tradicionalmente, os dinossauros são colocados numa categoria em comum aos répteis, levando a suposição de que eles compartilhavam o estilo de vida e as características desse último grupo. Contudo, evidências coletadas nas últimas três décadas demonstraram que os dinossauros na verdade eram bem parecidos com as aves, e foram seus ancestrais, o que levou a um novo questionamento: os dinossauros tinham sangue frio?

Um novo estudo do Instituto de Tecnologia da Califórnia, publicado na revista Nature, fornece novas evidências de que o metabolismo desses gigantes antigos provavelmente funcionava de uma maneira que os tornaria criaturas de sangue quente, a considerar os compostos residuais bioquímicos que eles produziam.

“Isso é realmente empolgante para nós, como paleontólogos – a questão sobre se os dinossauros tinham sangue quente ou frio é uma das perguntas mais velhas na paleontologia, e agora acreditamos ter chegado a um consenso de que os a maioria dos dinossauros tinha sangue quente”, disse a principal autora do estudo, Jasmina Wiemann, pesquisadora de pós-doutorado do instituto.

No estudo, a equipe analisou os produtos residuais resultantes da interação entre o oxigênio e as proteínas, açúcares e lipídios nos corpos dos dinossauros. Wiemann e sua equipe analisaram amostras do fêmur de 55 criaturas diferentes, incluindo 30 espécies extintas e 25 modernas, para analisar a quantidade e variação dessas moléculas em diferentes organismos.

A quantidade dessas moléculas residuais produzidas por um organismo é proporcional à quantidade de oxigênio que ele tira do ambiente, e pode nos informar acerca da sua natureza, ou seja, se eram de uma criatura de sangue quente ou frio.

Essas moléculas aparecem como manchas escuras nos fósseis; elas são muito estáveis e não se dissolvem na água, o que significa que resistem extremamente bem ao processo de fossilização e nos fornecem informações confiáveis sobre qualquer fóssil em que sejam encontradas.

Dentre as amostras analisadas havia ossos de dinossauros, pterossauros e répteis marinhos como plesiossauros, assim como pássaros, lagartos e mamíferos modernos. A equipe usou uma técnica chamada de espectroscopia de infravermelho para medir as moléculas residuais nessas amostras, e compará-las com os níveis metabólicos de animais modernos.

Fóssil de um T. rex.
Fóssil de um T. rex. Imagem: Unsplash

Baseando-se nesses dados, os cientistas então puderam fazer uma estimativa dos níveis metabólicos das espécies extintas.

Os resultados sugerem que os níveis metabólicos dos dinossauros eram tipicamente altos. Os níveis de certas espécies eram mais similares aos de aves modernas que possuem temperaturas corporais em torno de 42 graus Celsius, e mais altos do que os de mamíferos médios, com temperaturas em torno de 37 graus Celsius.

Mas há algumas exceções notáveis. Os ornitisquianos, uma ordem de animais caracterizada por seus quadris semelhantes aos de lagartos, que inclui o triceratops e estegossauro, pareciam ter níveis metabólicos mais baixos, comparáveis aos das espécies modernas de sangue frio.

“Dinossauros de sangue frio também podem ter tido que migrar para climas mais quentes durante a estação fria, e o clima pode ter sido um fator seletivo para os locais onde alguns desses dinossauros poderiam viver”, disse Wiemann.

Havia a hipótese de que, no passado, as aves tinham sobrevivido à extinção em massa que devastou os dinossauros há 66 milhões de anos, mas as descobertas da equipe não sustentam essa teoria. Muitas espécies que foram identificadas como tendo altos níveis metabólicos foram extintas durante esse período.

Possuir um nível metabólico alto já foi uma caraterística proposta como a razão por trás da sobrevivência das aves durante a extinção em massa que devastou os dinossauros. Contudo, Wiemann diz que esse estudo aponta que isso não é verdade: muitos dinossauros com capacidades metabólicas excepcionais e semelhantes às de aves foram extintos.

Animais de sangue quente, os que possuem níveis metabólicos altos, precisam de uma grande quantidade de oxigênio e de calorias para manter sua temperatura corporal, enquanto os de sangue frio conseguem se sustentar com uma quantidade bem menor.

O novo estudo responde uma pergunta antiga na paleontologia, e vai servir para nos informar melhor acerca de como esses gigantes antigos viviam.

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