Salamandras paraquedistas conseguem planar quando saltam de árvores

Dominic Albuquerque
A salamandra errante é uma exímia planadora. Imagem: Christian Brown

Se considerarmos apenas a sua aparência, as salamandras errantes não parecem criaturas capazes de realizarem acrobacias aéreas. Esses anfíbios, que podem passar a vida inteira nas sequoias da Califórnia, não possuem as membranas ou retalhos de peles vistos em lagartos, sapos e mamíferos.

Mas, quando incomodadas, as salamandras errantes podem se lançar no ar e despencar a alturas consideráveis até os galhos mais abaixo.

Esses mergulhos não são aleatórios e imprevisíveis, todavia, segundo um estudo publicado na Current Biology.

“Essa salamandra é uma surpresa, porque ela não parece que deveria ser capaz de fazer qualquer coisa que seja no ar’, disse Jake Socha, biomecânico da Virginia Tech, que estuda serpentes voadoras, outro grupo de animais com habilidades aerodinâmicas. “Parece que vários animais se depararam evolutivamente com um conjunto similar de características que envolve comportamentos que os ajudam a controlar seu corpo no ar”.

As florestas de sequoias são um mundo por si só, disse Christian Brown, um doutorando em biologia da Universidade do Sul da Flórida, coautor do estudo.

Ao longo de centenas de anos, milhares de quilos de detritos podem se acumular entre os galhos, formando tapetes esponjosos que coletam água e que estão repletos de plantas e pequenos animais.

“Quando você sobe numa árvore, se você olhar para baixo, não verá o chão da floresta – você só verá tapetes de samambaias dispostos abaixo”, disse Brown. “É como um labirinto vertical de tapetes de samambaias”.

As salamandras errantes podem saltar para fugir de predadores, ou para encontrar locais mais apropriados, quando há falta de comida ou de parceiros onde elas se encontram. Descer pelo tronco pode custar muito tempo e causar desgaste, além de apresentar o risco da salamandra ser caçada.

“Se eu usar o elevador da gravidade, estarei lá em segundos e não preciso arriscar nada disso”, diz Brown.

Ele suspeita que a maioria desses saltos ocorrem dentro da zona de 40 a 80 metros acima do chão. Como as salamandras são leves e a cobertura do chão da floresta é macia, saltar até lá não seria algo necessariamente fatal.

Mas ainda que a salamandra sobreviva a uma queda mal calculada, ela não terá mais acesso à comida e parceiros, pode não ter energia para buscar abrigo, e ainda ser devorada por espécies maiores, como a salamandra gigante do Pacífico.

Todos esses riscos dão ao anfíbio um grande incentivo para desenvolver sua habilidade de manobra quando no ar. Brow e sua equipe previamente descobriram que as salamandras errantes pulam de uma maneira um pouco diferente que as outras espécies.

Para o novo experimento, Brown e seus colaboradores analisaram mais de perto como as salamandras errantes se comportam quando estão no ar. Eles também examinaram outras três espécies que costumam passar algum tempo nas árvores.

Os pesquisadores soltaram membros das quatro espécies num túnel de vento, “que basicamente faz o animal pairar no lugar e simula uma descida eterna”, Brown explicou.

As salamandras errantes pareciam as mais confortáveis nessa situação. Elas se posicionavam da mesma maneira que paraquedistas fazem para reduzir a velocidade da queda, comportamento que os pesquisadores se referem como paraquedismo.

As salamandras assumem uma posição específica, “abrindo as pernas, distanciando suas mãos enormes e pés bem longe do corpo, esticando o pescoço para trás e apontando a cauda para cima, formando esta grande forma de U”, disse Brown.

A equipe descobriu que cerca de 10% da velocidade vertical, foi reduzida quando elas assumiram essa posição paraquedista.

Os anfíbios às vezes moviam a cauda para cima e para baixo, e os membros no sentido horizontal. Planar dessa maneira provavelmente ajuda os animais a se direcionarem até os tapetes de samambaias, para interromper a queda.

Outra espécie relacionada, a salamandra arbórea, também demonstrou capacidade em controlar sua queda. Em comparação, as duas espécies restantes, que são da mesma região, mas não costumam se aventurar em árvores, planaram sem alterar sua velocidade ou direção.

O próximo passo é confirmar se as salamandras errantes conseguem fazer isso na natureza, disse Brown. Os pesquisadores começaram a investigar como o vento e outras variáveis afetam a queda dos anfíbios, e o quão bem eles conseguem navegar quando estão no ar.

As salamandras errantes possuem algumas características anatômicas distintas, que podem ser a razão por trás dessas habilidades aéreas. Comparadas a outras salamandras escaladoras, seus corpos são mais planos, os pés maiores, e as caudas mais curvadas.

Brown e sua equipe estão testando simulações computacionais para entender como essas adaptações influenciam a maneira como o ar interage com o corpo da salamandra durante o salto.

Compartilhar