Superfície de Vênus tem primeiras imagens em luz visível tiradas do espaço

Dominic Albuquerque

As primeiras imagens capturadas do espaço em luz visível da superfície de Vênus foram finalmente fotografadas. O ocorrido foi uma surpresa boa, que aconteceu quando a Parker Solar Probe, uma sonda controlada pela NASA, sobrevoava o astro celeste.

Apesar do corpo rochoso do planeta estar abaixo de um denso conjunto de nuvens, os telescópios da sonda foram capazes de capturar essas imagens, segundo o registro de pesquisadores publicado dia 9 de fevereiro na Geophysical Research Letters.

Apesar de a sonda ter sido construída para estudar o Sol, ela deve regularmente executar sobrevoos em Vênus. Isso porque a gravidade do planeta puxa a sonda, estreitando sua órbita e aproximando-a do Sol. Essas assistências convenientes de Vênus ajudaram a espaçonave a chamar atenção da mídia quando ela se tornou a primeira sonda a adentrar na atmosfera do Sol, em dezembro de 2021.

A fotografia da superfície de Vênus

Nuvens costumam espalhar e absorver luz. Contudo, alguns comprimentos de onda conseguem atravessar, a depender da constituição química das nuvens, segundo Paul Byrne, um cientista planetário da Washington University, em St. Louis, que não esteve envolvido no estudo.

Imagem em luz visível da superfície de Vênus.
A área no meio é Aphrodite Terra, uma região elevada. As listras verticais foram causadas por partículas carregadas e grãos de poeira golpeando a câmera. A imagem foi tirada pela Parker Solar Probe, uma sonda da NASA. Imagem: NASA, APL, NRL

“Foi por acaso que eles tinham um instrumento capaz de enxergar através das nuvens”, disse Byrne.

 “Nós nunca tínhamos visto a superfície através das nuvens nesses comprimentos de onda antes”, disse Lori Glaze, Diretora da Planetary Science Divions da NASA, no dia 10 de fevereiro, durante uma transmissão ao vivo pelo Twitter.

A superfície de Vênus é caracterizada pela presença de falhas, dobras e vulcões, que são influenciados principalmente por processos ocorridos no manto do planeta. O vulcanismo constante de Vênus já originou cadeias de montanhas dobradas, vales e terrenos conhecidos como tesserae, uma palavra que significa “telhas” em grego.

Foi durante dois sobrevoos realizados em julho de 2020 e fevereiro de 2021 que os telescópios WISPR da sonda capturaram as novas imagens. Embora o lado claro da superfície de Vênus tenha ficado muito brilhante para a fotografia, é possível discernir características da superfície em grande escala através das nuvens do lado escuro do planeta, como a região vasta e montanhosa de Aphrodite Terra.

Aphrodite Terra é a maior das duas principais regiões elevadas de Vênus, e seu tamanho equivale ao da América do Sul.

Ainda que os cientistas saibam que tais janelas espectrais existam nas espessas nuvens de ácido sulfúrico de Vênus, eles não esperavam uma luz visível aos olhos humanos atravessando-as de maneira tão intensa.

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As fotos foram tiradas pelos telescópios WISPR da sonda — WISPR-0 (large box) e WISPR-1 (small box). Pontos escuros representam regiões elevadas e frias, enquanto pontos claros representam regiões baixas e quentes. Imagem: NASA, APL, NRL

Embora o WISPR tenha sido criado para estudar a atmosfera solar, sua construção também o permite detectar essas inesperadas janelas de luz nas nuvens venusianas. As fotografias mostram um planeta tão quente que brilha como ferro em brasa, disse Brian Wood, um astrofísico da Naval Research Laboratory dos Estados Unidos em Washington, DC, e coautor do artigo.  

O cientista explicou como a fotografia pode ser interpretada.

“O padrão de claro e escuro que você vê é basicamente um mapa da temperatura”.

Ou seja, pontos brilhantes são mais quentes, e pontos escuros são mais frios. Esse padrão é alinhado com os mapas topográficos da superfície de Vênus registrados anteriormente através de radares e pesquisas em infravermelho.

Regiões elevadas aparecem escuras, e regiões baixas aparecem claras, disse Wood.

As imagens surgem enquanto a NASA se prepara para lançar duas novas missões para Vênus. Segundo Wood, as novas fotografias “podem ajudar a interpretar as observações que serão feitas futuramente com essas novas missões”.

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