Os únicos animais parecidos com elefantes que colonizaram a América do Sul foram os animais da família Gomphotheriidae. Nesse sentido, uma análise do DNA de um dos paquidermes desta família mostra que este gigante sul-americano era provavelmente mais aparentado dos elefantes do que dos mastodontes e mamutes.
O Notiomastodon platensis é uma espécie de proboscídeo que cientistas já conhecem há muitas décadas. Contudo, a classificação desse gigante sul-americano sempre foi muito dúbia e polêmica no meio científico.
Agora, no entanto, uma equipe de pesquisadores recuperou o DNA de um dente de N. platensis, datando de incríveis 35.000 anos de idade aproximadamente. Com o material genético amplificado, os autores da pesquisa puderam detalhar melhor a árvore evolutiva dos proboscídeos e colocar o N. platensis mais próximo dos elefantes do que dos mamutes e mastodontes.
Aqui vale comentar, por conseguinte, que a ordem Proboscidea (proboscídeos) inclui diversas famílias semelhantes aos elefantes que conhecemos hoje. As famílias Elephantidae – dos elefantes – e Mammutidae – dos mamutes e mastodontes – são algumas das mais famosas do grupo.
Contudo, sempre foi muito difícil colocar de forma precisa a família Gomphotheriidae, dos gigantes sul-americanos, nesta árvore evolutiva. A pesquisa publicada no periódico iScience, portanto, compara o DNA do N. platensis com outros 7 proboscídeos.
A análise mostra, finalmente, que o grupo do N. platensis é um táxon irmão da família dos elefantes, Elephantidae. Os dois grupos, assim, tiveram um ancestral comum hipotético há apenas pouco mais de 10 milhões de anos.
Por que este gigante sul-americano desapareceu?
Existem dois mistérios cercando o N. platensis e os demais gigantes sul-americanos da mesma família. Primeiramente, a pergunta acima paira na cabeça de pesquisadores já há bastante tempo. Há muita controvérsia, também , nesse sentido, a respeito do desaparecimento dos mamutes e mastodontes.
A segunda dúvida fundamental é: por que estes animais eram endêmicos da América do Sul? No mesmo período de existência, outras espécies de proboscídeos migraram de um continente para o outro, mas os N. platensis sequer chegaram à América Central, até onde sabemos.
Não existe resposta ainda para nenhuma destas perguntas. A nova pesquisa, contudo, organiza um pouco melhor o conhecimento sobre a evolução dos proboscídeos. Isso para não falar do feito incrível de se recuperar material genético tão antigo em regiões subtropicais.
A pesquisadora brasileira Dimila Mothé e também autora da pesquisa conclui: “Quando você vê a árvore molecular, eu claramente vejo o mesmo resultado da minha tese: que o Notiomastodon pertence a uma linhagem que é intimamente relacionada à mesma linhagem dos elefantes.”