O material genético serve principalmente para carregar as informações para o funcionamento do organismo. Contudo, a maior parte do DNA dos animais não codifica nenhuma informação. Por esse motivo, inclusive, este DNA “lixo” foi considerado inútil por muitos anos.
Mas como é frequente na ciência, a resposta pode não ser tão simples assim. Acontece que uma dupla de pesquisadores vem estudando, nos últimos nove anos, as possíveis funções deste DNA lixo (nome oficial: DNA Satélite) dentro de nossas células.
Agora, Madhav Jagannathan e Yukiko M Yamashita, professores de biologia no ETH Zurich e no MIT, respectivamente, podem estar próximos de uma resposta. Na última pesquisa publicada pela dupla, os dados evidenciam uma relação entre o DNA satélite e a reprodução entre espécies diferentes.
Em moscas Drosophila melanogaster, por conseguinte, os pesquisadores descobriram que deletar uma proteína em específico acabava matando o inseto. Essa proteína, chamada de Prod, não por coincidência, se liga a uma porção do DNA satélite. Quando essa ligação não ocorria, portanto, os cromossomos do animal acabavam se espalhando pela célula.
Ademais, os autores se perguntaram qual seria o efeito desta proteína e da ligação ao DNA lixo em animais híbridos – formados pela reprodução de duas espécies diferentes. Cruzando uma fêmea de D. melanogaster com um macho de D. simulans (uma espécie próxima), naturalmente os filhotes morrem muito jovens ou acabam estéreis.
No entanto, ao analisar os tecidos de um filhote híbrido, os autores observaram o mesmo espalhamento dos cromossomos que ocorria pela deleção da proteína Prod. Isso leva a uma indicação de que o DNA lixo tenha um papel importantíssimo para a reprodução e especiação.
A dinâmica do DNA lixo em diferentes espécies
Além de contabilizar a maior parte de todo o material genético em nossas células, o DNA satélite também sofre mutações de forma bastante rápida e frequente. Deste modo, os pesquisadores acreditam que esse material genético pode evoluir de formas diferentes em espécies diferentes.
Ao longo do tempo, portanto, isso criaria a impossibilidade de híbridos viáveis entre espécies diferentes, no geral. “Sete ou oito anos atrás, quando nós decidimos que queríamos estudar o DNA satélite, nós tínhamos planos zero de estudar evolução”, afirma Yamashita em uma declaração.
“Esta é uma das partes bem divertidas de fazer ciência: quando você não tem uma ideia preconcebida, e você só segue a linha até você esbarrar em algo completamente inesperado.”, continua a pesquisadora.
Agora a equipe acredita que suas descobertas podem ter aplicações práticas e contribuir para um entendimento melhor das reais funções do DNA lixo. Com os resultados, a dupla de pesquisadores espera poder tornar animais híbridos viáveis por engenharia genética.
Todavia, como afirmam os autores, isso é tecnologia para os próximos anos.