Tipo A, B, AB ou O. Fator Rh positivo ou negativo. Esses são termos provavelmente familiares a qualquer um que tenha recebido uma transfusão ou feito uma doação de sangue. Os tipos sanguíneos, assim, são uma característica evolutiva importante dos humanos modernos. Todavia, uma nova pesquisa indica que Neandertais tinham tipos sanguíneos como nós.
Os autores da pesquisa, disponível no periódico PLOS One, utilizaram análises genéticas de fósseis de Neandertais e Denisovanos. Ambos foram espécies de hominídeos ancestrais que contudo viveram curtos períodos de tempo em contato com os Homo sapiens. Evidentemente, não há sangue preservado destas populações. Ainda assim, análises de proteínas nos fósseis permitem a criação de um panorama genético desses humanos.
O que os pesquisadores descobriram é que, ao contrário do que se pensava, os Neandertais tinham tipos sanguíneos bastante parecidos com os nossos. A genética dos Denisovanos ainda é bastante obscura, devido à falta de fósseis e evidências, mas estes também apresentaram características semelhantes.
Neandertais tinham tipos sanguíneos provavelmente baseados em um sistema ABO ancestral, de acordo com a pesquisa. Ou seja, os genes responsáveis pelo polimorfismo (diversas variações de um mesmo gene) do sangue estavam presentes nessas populações, apesar de terem variações na sequência genética em comparação à dos humanos modernos.
Tipos sanguíneos e descendência Neandertal
Além da descoberta do polimorfismo sanguíneo nos Neandertais, a pesquisa mostrou um novo alelo do fator Rh presente nestes humanos. O curioso é que este alelo apresenta bastante semelhança com aqueles presentes em populações aborígenes da Austrália e Indonésia. Isso reforça a ideia, de acordo com os autores, de intercruzamentos entre H. sapiens e outros hominídeos.
Assim, devido à semelhança genética das análises dos Neandertais às nossas, humanas, os pesquisadores sugerem que isso reforça também a ideia de que ambos grupos de hominídeos saíram da África, mesmo que em tempos diferentes. Os Neandertais, aliás, provavelmente colonizaram a Europa muito antes dos Sapiens. Nesse processo todo – que ocorreu ao longo de milhares de anos – também houve cruzamentos entre Neandertais e Homo sapiens.
Essa descoberta, portanto, mostra uma relação bastante profunda, evolutivamente falando, entre humanos modernos e outros hominídeos. Como nada em biologia faz sentido se não à luz da evolução (Dobzhansky, T. (1973)), muitas interpretações e descobertas podem partir daí.
Isso porque os grupos sanguíneos são, basicamente, diversas proteínas expressas – ou não – na superfície de nossas hemácias. Polimorfismos permitem uma margem maior para sobrevivência. Por exemplo, se uma doença prevalecer sobre o tipo sanguíneo O, a chance de todos os humanos morrerem por isso diminui. Portanto, o fato de que Neandertais tinham tipos sanguíneos mostra o quão próxima pode ter sido nossa evolução.
O artigo está disponível no periódico PLOS One.