O primeiro blastocisto humano desenvolvido em laboratório

Mateus Marchetto
Pesquisadores acabam de desenvolver o primeiro modelo de um blastocisto humano em laboratório. (Imagem de Weslley Carvalho de Souza Weslleycs97 por Pixabay)

O blastocisto é um dos primeiros estágios do desenvolvimento de um embrião humano. Nesse momento do desenvolvimento humano, após diversas divisões celulares, acontece a formação de uma cavidade chamada de blastocele. Modelos de blastocistos são essenciais para entender a formação e desenvolvimento de tecidos humanos, bem como para possibilitar a pesquisa com células-tronco.

Acontece que pesquisadores acabam de criar os primeiros modelos de blastocistos desenvolvidos em laboratório. Os dois estudos, publicados pela revista Nature no dia 17 de março utilizaram métodos diferentes, mas atingiram resultados bem semelhantes.

laboratory 829371 1920
(Imagem de Sintija Valucka por Pixabay)

No primeiro artigo, (Liu et al) os pesquisadores utilizaram células humanas adultas para criar o blastocisto. As células – com origem da pele, chamadas fibroblastos – passaram por uma reprogramação genética. Essa modificação fez com que as células da pele passassem a expressar uma gama variada de genes expressos nos blastocistos. Assim, houve a formação de uma população de células que posteriormente foram cultivadas tridimensionalmente.

Já no outro artigo (Yu et al), os cientistas utilizaram células-tronco embrionárias, derivadas de blastocistos humanos mesmo, além de células-tronco pluripotentes, que estão presentes em indivíduos adultos. A diferença aqui é que as células passaram por um tratamento no meio de cultura com fatores de diferenciação para blastocistos. Ou seja, o meio continha moléculas que simulavam o microambiente de um blastocisto.

O blastocisto sintético não é idêntico ao natural

Após um período de 6 a 8 dias, ambos os estudos registraram a formação de estruturas muito similares àquelas de blastocistos naturais. Os resultados continham uma cavidade, semelhante à blastocele, e também conjuntos de células que normalmente se desenvolvem nesse estágio.

Apesar disso, os blastocistos não são idênticos aos naturais, e provavelmente teriam uma chance de sucesso muito pequena se implantados no útero. Isso porque estudos anteriores em ratos mostraram resultados semelhantes, mas a implantação do blastocisto no útero foi um fracasso.

rat 1072588 1920
(Imagem de sipa por Pixabay )

Além do mais, a pesquisa do desenvolvimento humano frequentemente esbarra em barreiras éticas. Diretrizes internacionais, por exemplo, proíbem o desenvolvimento em laboratório de embriões com mais de 14 dias – mais ou menos quando inicia-se a fase da gástrula. No entanto, a criação de modelos laboratoriais de estruturas humanas pode ajudar na pesquisa e desenvolvimento seguro de novas tecnologias.

Blastocistos sintéticos poderiam, por exemplo, auxiliar no tratamento de problemas genéticos relacionados a desenvolvimento, bem como aumentar a chance de sucesso e segurança de uma gravidez.

Os artigos estão disponíveis em: Nature Communications¹ ².

Compartilhar