Ao longo da evolução, os humanos desenvolveram algumas habilidades únicas. Dessas habilidades, podemos citar três que foram essenciais para a formação de uma sociedade: o uso de ferramentas, a escrita e o uso do fogo. No entanto, observações das savanas australianas mostram que talvez essa última habilidade não seja tão única dos humanos. Acontece que falcões lendários australianos vêm usando o fogo a seu favor há séculos.
Algumas lendas de povos aborígenes australianos contam que um tipo de falcão de fogo (do inglês, firehawk) podia domar o fogo e usá-lo para incendiar florestas. Acontece que estudos recentes provaram certa veracidade das lendas dos falcões na Austrália. Um estudo do final de 2017 contou com relatos de povos aborígenes e também com a observação do comportamento de falcões durante queimadas na savana australiana.
Por meio dos relatos e observações, os pesquisadores puderam concluir que, de fato, os falcões podem usar o fogo a seu favor, mas de forma bem menos glamorosa que uma fênix o faria. Isso porque três espécies principais aprenderam a pegar galhos em chamas de uma região (que já estava pegando fogo por outros motivos) e levar para outra mais distante, iniciando uma segunda queimada.
O fogo naturalmente assusta animais menores, como lagartos, roedores e até pequenos pássaros. Isso, por conseguinte, faz com que esses pequenos animais virem presas fáceis para os firehawks (Milvus migrans, Haliastur sphenurus e Falco berigora).
Falcões e queimadas
Boa parte do bioma australiano tem características de uma savana. Ou seja, há muitas gramíneas e arbustos secos, além de algumas árvores separadas pelo terreno plano. Isso é um prato cheio para o fogo. Aliás, queimadas pequenas são essenciais para o bioma. Isso porque a queima de materiais secos periodicamente evita um acúmulo muito grande de combustível que possa iniciar um desastre ambiental.
Povos nativos e fazendeiros, inclusive, tem por prática a criação de pequenos áreas em chamas justamente por esse motivo.
No entanto, há um certo impacto ambiental nas queimadas dos falcões. Autoridades de segurança já relataram a contenção de queimadas para, logo em seguida, perceberem que outra começou a poucas centenas de metros do local. Esse tipo de incidente pode ser atribuído, sim, aos falcões, mas ainda não há evidências concretas para tanto.
Além do mais, criadores de gado frequentemente abatem falcões, mesmo de espécies que não tem relação com as queimadas, para evitar problemas com as criações de animais. Falcões peregrinos, por exemplo, são animais extremamente raros que sofrem com esse tipo de equívoco.
Vale lembrar que as queimadas são um evento natural nesse tipo de ambiente, mas desastres como o de 2020 acontecem quando há um desequilíbrio no ecossistema. Ademais, é preciso ressaltar que esse conhecimento acerca dos falcões piromaníacos só foi possível por meio de culturas nativas aborígenes australianas também ameaçadas hoje.
O estudo está disponível no periódico BioOne.