Arqueologicamente é algo bastante interessante, mas uma lápide com escritas em grego antigo em Israel não é algo bizarro e inédito (o que não tira o seu valor científico e histórico). Por sua importância sagrada para as três grandes religiões monoteístas e os inúmeros conflitos que ocorreram por lá nos últimos milênios, Israel é, portanto, lar de ricos sítios arqueológicos.
A lápide é bastante recente, datando do século VI ou VII – ou seja, embora esteja escrita em grego antigo, não é grega. Isso ocorre porque o grego, ao lado do latim, se tornou uma língua franca da igreja cristã e dos intelectuais europeus. A placa, na verdade, era da era bizantina – o Império Romano do Oriente, sediado em Constantinopla (atual Istambul, na Turquia).
A descoberta
Uma equipe de limpeza do Parque Nacional Nitzana, no sul de Israel, encontrou a placa. A equipe faz parte de um programa do governo de Israel para empregar pessoas desempregadas em decorrência da pandemia em vagas de zeladoria e conservação ambiental. É bastante comum essas descobertas acidentais de objetos em sítios arqueológicos por não cientistas, e já relatamos diversos casos semelhantes em nossas notícias de história e arqueologia.
Há duas traduções possíveis para o português da frase já no inglês: “Bem-aventurada Maria, que viveu uma vida imaculada”, ou “Santa Maria, que viveu uma vida imaculada”. A frase em inglês, traduzida da lápide com escritas em grego antigo, noticiada no âmbito internacional, diz “Blessed Maria, who lived an immaculate life”.
Após encontrar a placa, então, David Palmach, o diretor do Nitzana Educational Center, de dentro do parque nacional, fotografou a placa e enviou a foto aos pesquisadores da Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA). Foi a Dra. Leah Di Segni da Universidade Hebraica de Jerusalém e aliada da IAA quem decifrou as inscrições. Suas especialidades são exatamente as inscrições gregas antigas.
Uma lápide com escritas em grego antigo – importante ou não?
Os pesquisadores dizem que o achado se encaixa com outras descobertas arqueológicas em Nitzana relacionadas às práticas funerárias cristãs. Esses objetos pertenciam aos funerais de diversos cristãos da era bizantina enterrados em igrejas das redondezas. No entanto, ainda não há um grande número de objetos descobertos. Qualquer novo achado, então, ajudará aos pesquisadores na compreensão dos cemitérios cristãos próximos de Nitzana.
“Ao contrário de outras cidades antigas no Negev, muito pouco se sabe sobre os cemitérios ao redor de Nitzana. O achado de qualquer inscrição como esta pode melhorar nossa definição dos limites dos cemitérios, ajudando assim a reconstruir os limites do próprio assentamento, que ainda não foram verificados”, diz ao jornal israelense Haaretz o arqueólogo Pablo Betzer, da Autoridade de Antiguidades de Israel.
Lembra que eu falei, no início do texto, que não trata-se de algo inédito, já que os romanos e os bizantinos realmente utilizavam o latim e o grego? Mas também falei que há a sua importância histórica e arqueológica, certo?
Pois bem, os pesquisadores dizem que Nitzana contém as chaves para entender a transição entre os períodos de influência bizantina e islâmica na região. Por ser um local sagrado para as três religiões monoteístas, constantemente há conflitos armados e brigas por influências nas cidades da Terra Santa. Assistimos a diversos desses conflitos nos dias de hoje, por exemplo.
Com informações de Smithsonian Magazine e Haaretz.