Diversos estudos recentes sugerem que a vida pode existir em lugares improváveis dentro do nosso Sistema Solar. Embora Marte seja o foco principal da busca por vida extraterrestre, pesquisas têm revelado sinais encorajadores em locais surpreendentes, desde os mares gelados de metano em Titã até as nuvens venusianas e os oceanos profundos de Encélado.
Abaixo, conheça alguns desses lugares prováveis e o que eles possuem que aumentam o otimismo de muitos astrobiólogos.
Encélado
Debaixo da crosta gelada de Encélado, uma lua de Saturno, existe um oceano global de água líquida que contém a maioria dos ingredientes necessários para sustentar a vida. Estudos realizados por cientistas planetários analisaram dados coletados pela missão Cassini da NASA ao longo de sete anos. Durante essa missão, um instrumento chamado Analyser for Cosmic Dust da Cassini capturou amostras de plumas gigantescas compostas por gelo e água que jorravam das rachaduras na superfície congelada de Encélado. Surpreendentemente, essas plumas continham moléculas de fósforo.
O fósforo é um elemento essencial para a vida, pois se combina com o oxigênio para formar fosfato, componente fundamental do DNA e das membranas celulares. Enquanto os oceanos terrestres possuem uma abundância desse elemento, essa é a primeira vez que encontramos fósforo em um oceano alienígena. Com base nas informações sobre a composição de Encélado e nos novos dados, os cientistas conseguiram criar um ambiente similar ao da lua de Saturno em laboratório. Descobriu-se que o oceano de Encélado pode conter até 100 vezes mais fosfato do que a Terra, sugerindo a possibilidade de outros mundos oceânicos em nosso Sistema Solar abrigarem condições propícias para a vida.
Vênus
Embora por muitos anos tenham surgido especulações sobre a existência de vida nas nuvens venusianas, um novo estudo indica que os blocos fundamentais da vida poderiam realmente sobreviver lá. Pesquisadores conduziram testes com adenina, citosina, guanina, timina e uracila – componentes essenciais do DNA e RNA – sob condições similares àquelas encontradas na atmosfera superior de Vênus, composta principalmente por ácido sulfúrico.
Embora as camadas superiores das nuvens de Vênus sejam hostis à vida como conhecemos na Terra, elas não possuem temperaturas tão elevadas quanto sua superfície. Essa descoberta vai contra as expectativas convencionais e sugere que as bases do DNA poderiam sobreviver nesse banho ácido flutuante. No entanto, a molécula de fosfato que forma a estrutura espinhal do DNA se decompõe rapidamente em ácido sulfúrico. Portanto, se a vida realmente existir nas nuvens venusianas, a evolução teria desenvolvido alguma outra estrutura para manter as informações genéticas intactas.
Titã
Embora Titã, a maior lua de Saturno, pareça ser semelhante à Terra, com lagos, rios e chuvas, essa semelhança é superficial. Na realidade, essas águas são compostas de metano líquido e etano, e as temperaturas extremamente baixas – cerca de 300 graus negativos – fazem com que a água se torne tão sólida quanto uma rocha. No entanto, mesmo nessas condições inóspitas, não podemos descartar a possibilidade de vida.
Um recente estudo sugere que a cratera Selk, uma área que será explorada pela espaçonave Dragonfly da NASA daqui a uma década, pode ter reunido os ingredientes necessários para o surgimento da vida após uma colisão. Essa colisão criou um lago composto por água líquida e metano que persistiu por milhares de anos, oferecendo um potencial ponto de partida para reações bioquímicas. Além disso, sob a superfície congelada também podem existir fontes geotérmicas impulsionando água amoniacal em direção aos mares de hidrocarbonetos. Essas condições poderiam criar pequenos oásis térmicos propícios para abrigar formas de vida desconhecidas.
Lua
Curiosamente, poderíamos estar inadvertidamente espalhando microrganismos no espaço mais próximo de nós. Segundo os cientistas planetários da NASA, Prabal Saxena e seus colegas, crateras permanentemente sombreadas perto do Polo Sul da Lua podem abrigar populações de micróbios extremamente resistentes, além de gelo. Essas crateras oferecem proteção contra a radiação intensa e podem criar pequenas áreas habitáveis na superfície lunar. Acredita-se que esses microrganismos também possam ser transportados por futuras missões humanas à Lua.
Essas descobertas provocam reflexão sobre o fato de que, nos próximos anos, teremos um histórico de 50 anos de presença humana e objetos na Lua sem exigências rigorosas em relação à contaminação avançada. Por exemplo, em uma missão recente, foram lançados tardígrados congelados na superfície lunar. Embora seja improvável que tenham sobrevivido por tanto tempo nesse ambiente hostil, se esse vazamento tivesse ocorrido em um desses nichos habitáveis nas proximidades do Polo Sul lunar, poderíamos estar deixando tardígrados lunares esperando por futuras explorações.