Tilápia-do-nilo: o peixe mais devastador e rentável do Brasil

SoCientífica
Imagem: Blog do Caiaqueiro e do Pescador

A tilápia-do-nilo é um grande paradoxo por si só. Este peixe, embora seja uma força destrutiva para a biodiversidade, é igualmente benéfico para a economia brasileira, com particular destaque para o estado de Santa Catarina. As águas frescas e salobras da região constituem o habitat preferido deste peixe, altamente apreciado pelos consumidores de todo o Brasil.

O Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA/SC) incluiu o peixe na lista de 13 espécies invasoras que habitam as águas locais. Mesmo assim, segundo a Epagri, a tilápia-do-nilo constituiu 77% da piscicultura catarinense em 2021.

Com origem no continente africano, esse resistente peixe foi introduzido para controlar vegetação aquática e promover a aquicultura. “Tornou-se a espécie de peixe com a maior compilação de impactos ambientais em nível global”, destaca o IMA.

Essa espécie exótica conquistou territórios novos graças ao interesse econômico. Com isso, mais da metade das bacias hidrográficas globais contém pelo menos uma espécie exótica de peixe. Essa invasão perturba comunidades naturais em grande escala.

Na lista vermelha de invasões, dez espécies correspondem a 69% das introduções de peixes estrangeiros. Quatro delas estão na Lista Oficial de Santa Catarina: carpa, black bass, truta-arco-íris e tilápia-do-nilo. Para conter essa disseminação, o IMA insiste na necessidade de critérios rigorosos de produção.

Resistência notável e dieta versátil da tilápia

A tilápia-do-nilo se destaca por sua adaptabilidade excepcional. Suporta temperaturas extremas (de 8°C a 41°C), vive bem em águas lentas ou pantanosas com vegetação aquática e tem uma dieta variada, composta tanto por alimentos animais quanto vegetais.

Os jovens se alimentam principalmente de plâncton, enquanto os adultos consomem plantas, algas, insetos e crustáceos. Além disso, os pais guardam os filhotes nos ninhos construídos por eles mesmos – um detalhe que garante altas taxas de sobrevivência.

Segundo o órgão ambiental estadual, esta espécie também prospera em ambientes degradados com oxigenação baixa e relativa salinidade — sempre à custa das espécies nativas.

Importância econômica x necessidade ambiental

Apesar dos danos ambientais causados pela tilápia-do-nilo, sua criação é crucial para a economia brasileira — desde que realizada com cautela adequada para prevenir escapatórias e impactos negativos associados.

O próprio IMA reconhece sua relevância econômica notável: “Está enquadrada na Categoria 2, requerendo boas práticas de manejo para reduzir impactos ambientais”. Um estudo recente da Epagri revelou um crescimento superior a 28% na produção local dessa espécie entre 2015 e 2020.

Em resposta às preocupações ambientais sobre o cultivo desse peixe exótico, a Associação Catarinense de Aquicultura (ACAq) defende incisivamente seu papel na economia local. “Rotulá-la indiscriminadamente como uma espécie invasora é um equívoco científico e uma generalização injusta”, segundo eles.

Eles argumentam que não há consenso científico sobre se tratarem ou não desta espécie como invasora. Em contraste com as preocupações do IMA/SC, eles sustentam que os impactos dessa tilápia variam amplamente dependendo das condições locais — como predadores naturais existentes ou características climáticas específicas.

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