20% das espécies invasoras no Brasil estão só em Santa Catarina

Felipe Miranda
O Javali é um dos exemplos mais comuns de espécies invasoras. (Imagem: Pixabay).

O javali é a única espécie cuja caça é permitida por lei no Brasil. O javali é um exemplo de uma espécie invasora, e causa enormes transtornos aos ambientes em que se aloja — destruindo lavouras, causando enormes prejuízos econômicos a fazendeiros e pequenos produtores rurais. Então, no caso da espécie, a caça é vista como uma maneira de controle. Além disso, essas espécies invasoras causam um desiquilíbrio no bioma.

Os javalis vieram da Europa e do Uruguai. Foram trazidos durante a década de 1990 para a criação comercial. Alguns indivíduos escaparam para a natureza e muitas vezes cruzaram com porcos. Hoje, isso resultou em mais de 200 mil animais selvagens no estado de Santa Catarina, fora outras áreas do Brasil.

Segundo uma matéria feita pelo G1, 20% das espécies invasoras do Brasil estão no estado de Santa Catarina, tornando-o um dos estados que mais sofrem no Brasil com esse problema das espécies exóticas. São, no total 543 espécies contabilizadas na lista da Estratégia Nacional sobre Espécies Exóticas Invasoras, do Ministério do Meio Ambiente. Dessas espécies, 99 são presentes no território catarinense.

Vale lembrar que as espécies invasoras não são necessariamente animais. As quatro principais espécies invasoras em SC são o sagui-de-tufos-pretos, o javali, o mexilhão-dourado e pinheiro. Sim, o pinheiro. O sul do Brasil possui um clima mais ameno – bastante propício para o pinheiro que, após introduzido no território brasileiro, se adaptou bem e tornou-se uma árvore bastante comum na região. Eles foram trazidos dos Estados Unidos e Canadá, também por motivos econômicos. Suas sementes espalham-se através do vento por até 60 quilômetros e, por isso, se disseminaram bastante pela região sul do Brasil.

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O pardal é um bom exemplo de espécie invasora comum no Brasil. Diferente do Javali, contudo, ele não traz prejuízos econômicos. Imagem/Reprodução: Pescas Gerais

Invasões por espécies exóticas são a segunda maior causa de extinção de espécies, ficando atrás apenas da exploração comercial da natureza, que vai desde a caça, até o desmatamento e o extrativismo, conforme demonstrado por um estudo publicado em 2016 no periódico Biology Letters.

“Nossos resultados mostram que as espécies exóticas são a segunda ameaça mais comum associada a espécies que foram completamente extintas desses táxons desde 1500 dC”, explicam os pesquisadores no abstrato do artigo.

Em relação ao mexilhão-dourado, que veio da Ásia, a espécie não teve uma introdução com interesses comerciais, nem nenhuma outra razão que causasse uma introdução voluntária. Eles vieram através da água de lastro de navios cargueiro que atracavam nos portos.

Os mexilhões se propagam e criam colônias com mais de 100 mil indivíduos por metro quadrado. Com essa enorme densidade populacional, eles entopem tubulações e obrigam as usinas hidrelétricas a tomarem medidas contra esse entupimento. Ao menos 50 hidrelétricas são afetadas pelos mexilhões, que geram custos com a interrupção das turbinas para a limpeza, além do material, equipe e mão de obra para a retirada da praga.

Mexilhão-dourado incrustrado na usina de Itaipu. Imagem: Lucianosjb1 / Wikimedia Commons

Já os saguis se espalharam pela região através do tráfico ilegal. Caminhoneiros os trouxeram do nordeste como animal de estimação no anos 1960, conforme relata o G1. Soltos na natureza, eles competem com as espécies locais e são vetores de doenças contagiosas aos humanos.

E bom, nem todos são a favor da caça como controle desses animais que tornaram-se pragas. Afinal, eles não são culpados por estarem sendo maléficos ao ambiente, mas os culpados somos nós, que os tiramos do habitat natural e os introduzimos aqui. Uma espécie está viva pela seleção natural – ou seja, ela está adaptada ao seu ambiente e o ambiente está adaptada a ela. Quando uma espécie exótica é introduzida, o ambiente não está adaptado a ela, e apenas vivendo seu dia a dia, a espécie causa transtornos.

“Os animais não têm exatamente culpa. A gente precisa entender que o problema é global e que está ligado ao homem”, disse ao G1 o professor da Universidade Federal de Santa Catarina Alex Nuñer.

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