Se estivesse em outra estrela, James Webb poderia detectar vida na Terra, sugere estudo

Felipe Miranda
Ilustração do Telescópio Espacial James Webb. Imagem: Adriana Manrique Gutierrez, NASA Animator.

Quando foi lançado, o Telescópio Espacial James Webb (JWST, na sigla em inglês), causou um grande rebuliço. Na verdade, até os dias de hoje, a todo o momento o telescópio estrela grandes notícias e está sempre sendo comentado. O telescópio espacial mais poderoso já produzido fornece uma quantidade de dados e uma qualidade muito superior aos dados, já muito impressionantes, de seu antecessor, Telescópio Espacial Hubble.

Uma das várias missões do JWST é ajudar na busca pela vida alienígena, seja ela inteligente, seja não-inteligente. No entanto, a partir disso, surge uma dúvida. O telescópio tem um alcance insano, mas até onde ele permitiria encontrarmos a vida?

Foi esse o questionamento que um grupo de pesquisadores fizeram a eles mesmos. Em um artigo publicado em pré-print no servidor arXiv em 28 de agosto, os pesquisadores testaram o quão longe alguém poderia enxergar a vida com o Telescópio James Webb.

Poderíamos enxergar a vida na Terra de quão longe?

Basicamente, os cientistas pegaram um espectro da atmosfera terrestre e simplesmente reduziram a qualidade dos dados. Assim, eles poderiam simular a atmosfera da Terra vista de longe – na verdade, de muito longe. Ao simular um observador a anos-luz de distância, a equipe utilizou um simulador de computador replicando as capacidades do JWST.

A ideia da equipe era testar a capacidade do Telescópio Espacial James Webb de detectar bioassinaturas e tecnoassinaturas (assinaturas da utilização de tecnologia, o que implica na existência de vida inteligente) de muito longe. Algumas dessas assinaturas são o metano e o oxigênio, que podem ser produzidos por via biológica, além da presença de dióxido de nitrogênio e clorofluorcarbonos (CFCs), que são produzidos por humanos e podem significar a presença de vida inteligente.

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Os dados antes do tratamento de redução de qualidade. (Imagem: Lustig-Yaeger, et al).

Assim, os cientistas puderam concluir que o JWST poderia detectar a presença de vida na Terra até de uma posição equivalente às do sistema estelar Trappist-1, sistema que ficou famoso recentemente por conter diversos planetas semelhantes à Terra – ou seja, um ótimo candidato à planetas habitáveis. O sistema está a cerca de 40 anos-luz da Terra. Então, o alcance máximo do JWST para a detecção da vida deve girar em torno dessa distância. Os pesquisadores acreditam que o telescópio poderia até mesmo detectar sinais da presença de vida extraterrestre a até 50 anos-luz de distância.

Vale lembrar, entretanto, que o artigo ainda não foi revisado por pares e está em fase pré-print – quando foi publicado para acesso, mas sem passar pelo rigoroso processo da revisão por pares, a clássica e importante revisão realizada nos artigos científicos antes da publicação oficial em uma revista.

“O Telescópio Espacial James Webb (JWST) permitirá a busca e caracterização de atmosferas de exoplanetas terrestres na zona habitável via espectroscopia de transmissão. No entanto, relativamente pouco trabalho tem sido feito para usar dados do sistema solar, onde a verdade terrestre é conhecida, para validar códigos de recuperação espectroscópica destinados a estudos de exoplanetas, particularmente no limite de alta resolução e alto sinal-ruído”, explicam os pesquisadores no abstrato do artigo.

Eles explicam que encontraram “excelente concordância entre modelo e dados (desvios < 10%) que permitem a detecção robusta de H2O, CO2, O3, CH4, N2, N2O, NO2, HNO3, CFC-11 e CFC-12, fornecendo assim suporte convincente para a detecção de habitabilidade, bioassinatura e gases de tecnoassinatura na atmosfera do planeta usando um espectro de transmissão análogo a exoplanetas”.

A detecção da vida em exoplanetas

O estudo pode abrir caminho para entendermos como e até onde podemos procurar pela vida extraterrestre.

“O estudo da Terra fornece dados de alta precisão de exoplanetas análogos à Terra que podem preparar nossos modelos de exoplanetas para interpretar atmosferas 3D verticalmente complexas e espacialmente dinâmicas, começando com estudos de curto prazo de gigantes extrassolares”, diz a equipe no artigo.

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