Primata extinto, Homo naledi pode ter feito gravuras em cavernas e enterrado seus mortos

Elisson Amboni
Homo naledi. Imagem: Sylvain Entressangle, Reconstitution Elisabeth Daynes/Lookatsciences

Homo naledi, um primata antigo com um cérebro do tamanho de uma laranja, está causando um rebuliço na comunidade científica. Novas descobertas sugerem que essa espécie pode ter gravado símbolos em paredes de cavernas e enterrado intencionalmente seus mortos.

“É uma coisa notável. Minha mente está explodindo”, disse Lee Berger, da National Geographic Society em Washington DC, que liderou a pesquisa publicada no BioRxiv.

Descobertas que desafiam as expectativas

O Homo naledi foi descoberto em 2013 no sistema de cavernas Rising Star, na África do Sul. Os fósseis revelaram uma espécie com uma mistura de características primitivas e modernas, e um cérebro um terço do tamanho do nosso.

“Muito do que pensávamos sobre a origem da inteligência e os poderes cognitivos de ter um cérebro grande claramente acabou de morrer”, diz Berger.

Em julho do ano passado, a equipe de Berger descobriu gravações nas cavernas. “Houve esse momento de espanto e surpresa ao ver esses símbolos altamente reconhecíveis esculpidos na parede”, diz Berger. “Ver esses símbolos foi totalmente inesperado.”

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Gravuras encontradas em caverna. Imagem: Berger et al., 2023

As formas geométricas, compostas principalmente de linhas de 5 a 15 centímetros de comprimento, foram gravadas profundamente na pedra de dolomita, um tipo de rocha incrivelmente dura.

Enterrando os mortos

Além das gravações, a equipe de Berger também encontrou novas evidências do que poderiam ser enterros deliberados. Em um local na câmara Dinaledi, os pesquisadores encontraram 83 fragmentos de ossos e dentes, aparentemente de um único corpo, em uma área oval de solo perturbado. Se confirmados, esses enterros seriam mais antigos que o primeiro enterro humano conhecido na África por pelo menos 160.000 anos.

Essas descobertas estão construindo uma imagem cada vez mais rica do Homo naledi e de seu comportamento. “Esses humanos estavam levando carcaças, corpos de companheiros naledis, para o fundo da caverna, e eles devem ter tido iluminação artificial”, diz Chris Stringer, também do Natural History Museum.

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Fósseis do Homo Naledi. Imagem: Robert Clark, National Geographic

“Isso é um comportamento notável para uma criatura que tem um cérebro do tamanho de um macaco. Sugere organização, porque isso não é algo que um único indivíduo teria feito, deve ter sido uma atividade em grupo. E obviamente aconteceu várias vezes. Isso implica a existência do que podemos chamar de cultura – uma espécie diferente, não intimamente relacionada a nós.”

O futuro da pesquisa

Enquanto a pesquisa continua, Berger e sua equipe estão sendo cautelosos para preservar o local. “O Homo naledi alterou quase todos os espaços. Isso me fez ficar incrivelmente cauteloso em permitir que as pessoas entrem nesse espaço até decidirmos exatamente como vamos abordá-lo”, diz Berger.

Ele espera envolver a comunidade científica mundial na resposta a essa questão. “Nós, como humanos, temos que decidir como vamos abordar o espaço de outra espécie que eles claramente viam como extremamente importante para eles.”

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