Preguiças-gigantes, com mais de 1.000 quilos, habitavam as Américas

Damares Alves
Megalonyx jeffersonii.

As preguiças, conhecidas por seu estilo de vida lânguido no dossel das florestas tropicais das Américas Central e do Sul, remontam sua linhagem a uma época em que seus ancestrais trilharam um caminho muito diferente. Esses antigos parentes das preguiças de hoje, diferentemente de suas contrapartes contemporâneas, não ocupavam os galhos acima, mas o solo abaixo.

Entre esses parentes do passado estava a Megalonyx jeffersonii, uma preguiça-gigante que percorria as Américas há cerca de 10.000 anos. Ultrapassando em muito as restrições de tamanho das preguiças modernas que vivem em árvores, essa espécie podia atingir até três metros de comprimento e potencialmente pesar até uma tonelada, conforme observado em um estudo. Sua estatura colossal marcava um contraste impressionante com as criaturas diminutas que hoje são vistas atravessando lentamente as florestas.

Onde viviam as preguiças terrestres gigantes?

Elas já percorreram extensivamente as Américas. Seus fósseis foram encontrados em locais que vão desde as regiões geladas do Alasca até os extremos sul da Patagônia. Julia Tejada, uma geobióloga do Instituto de Tecnologia da Califórnia, esclareceu em um artigo no periódico Scientific Reports, que esses antigos mamíferos não estavam confinados a um único tipo de ambiente.

Eles habitavam diversas paisagens, como áreas costeiras, onde podem ter tido contato com a vida marinha, regiões montanhosas áridas e florestas tropicais exuberantes.

Paleotoca, feita por preguiça-gigante há 200 mil anios, no Rio Grande do Sul.
Paleotoca, feita por preguiça-gigante há 200 mil anios, no Rio Grande do Sul.

De acordo com Tejada, suas estruturas e tamanhos corporais variados refletem a adaptação a diferentes papéis ecológicos. Ao contrário de seus parentes arbóreos atuais, as evidências apontam que algumas dessas preguiças-gigantes viviam perto dos oceanos, com possíveis comportamentos semiaquáticos. Pode-se imaginar, como sugere Tejada, há cinco milhões de anos, essas enormes preguiças nadando nas águas frias do Oceano Pacífico, em meio a pinguins, tubarões e focas.

O que as preguiças terrestres gigantes comiam?

As preguiças-gigantes, que há muito tempo se pensava serem estritamente herbívoras devido à morfologia de seus dentes, revelam uma história de dieta diferente após um exame científico mais minucioso.

A pesquisa realizada por Tejada e sua equipe, que envolveu proporções de isótopos de nitrogênio de fósseis de preguiças, revelou uma dieta mais variada. Em particular, o Mylodon darwinii, anteriormente classificado como herbívoro, apresentava características onívoras oportunistas. Essas descobertas implicam em uma possível adaptabilidade ecológica mais ampla para essas criaturas antigas do que se entendia anteriormente.

Outras perspectivas sobre ecossistemas antigos e teias alimentares podem ser extraídos da exploração de predadores ômega do passado, que podem ter influenciado os hábitos alimentares das preguiças-gigantes.

Por que as preguiças terrestres gigantes foram extintas?

As preguiças terrestres gigantes já foram muito prósperas devido à sua capacidade de habitar vários nichos ecológicos e à sua dieta diversificada. No entanto, sua existência foi interrompida há cerca de 10.000 anos. O planeta estava passando por mudanças climáticas significativas com o advento da Era Glacial, transformando vastas extensões de habitats férteis em paisagens geladas.

Megalonyx jeffersonii comparado ao tamanho de um humano.
Megalonyx jeffersonii comparado ao tamanho de um humano.

A chegada dos primeiros humanos às Américas marcou uma nova era de desafios para essas criaturas. As pressões combinadas de um clima que muda dinamicamente e do aumento da população humana provavelmente tornaram as preguiças-gigantes, entre outras megafaunas, mais suscetíveis à extinção.

De acordo com Tejada, embora a alteração climática possa ter sido um fator, a implicação da migração humana no fenômeno da extinção está se tornando cada vez mais evidente.

“Embora as mudanças climáticas possam ter desempenhado um papel importante, há cada vez mais evidências de que o fator principal e de maior impacto foi a migração humana da África para outros continentes. Não necessariamente a predação ativa, mas os seres humanos alterando os ecossistemas”, diz Tejada.

Essa teoria ganha força com a descoberta de pegadas humanas e de preguiças lado a lado e esculturas feitas por humanos em ossos de preguiças, sugerindo uma interação entre as espécies.

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