Com as tensões crescentes na Ucrânia após a invasão realizada pela Rússia e as sanções subsequentes executadas pela União Europeia e outros países da aliança ocidental, como Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul, a possibilidade de uma guerra nuclear surge não apenas nas conversas de especialistas, mas entre pessoas comuns. E uma das perguntas que muitas pessoas fazem é se é possível parar uma bomba nuclear em pleno voo.
De acordo com a Federação de Cientistas Americanos, a Rússia possui um total de 5977 ogivas nucleares em seu inventário — o maior em todo o mundo. Em comparação, os Estados Unidos têm 5427, a França, 290, e o Reino Unido possui 225. No domingo, o presidente russo, Vladimir Putin, colocou suas forças nucleares em “prontidão de combate especial”, alertando o ocidente sobre os riscos envolvidos na escalação do conflito do leste europeu.
O Bulletin of the Atomic Scientists diz que o arsenal russo inclui 4447 ogivas, das quais 1588 estão dispostas em mísseis balísticos e bases de bombardeiros pesados. Acrescenta que há “aproximadamente 977 ogivas adicionais estratégicas, com 1912 ogivas não-estratégicas” em guarda de reserva.
Contudo, especialistas já afirmaram que o número exato de ogivas e armas não é conhecido devido ao sigilo envolvendo estratégias e questões de segurança.
A defesa contra uma bomba nuclear
Ao longo dos anos, uma das opções sugeridas para a defesa contra uma bomba nuclear foi a criação de um escudo ou sistema de defesa que pudesse proteger as pessoas. Tentativas diversas foram feitas desde os anos 1950 nos Estados Unidos, mas, até então, o país possui apenas um sistema falho que a maioria dos especialistas acredita não ser capaz de proteger de fato os americanos contra uma bomba nuclear, de acordo com Philip E. Coyle III, um cientista conselheiro sênior no Centro de Controle de Armas e Não-Proliferação.
“Essa é a coisa mais difícil que o Pentágono já tentou fazer, como mostram nossas tentativas de quase 70 anos”, contou Coyle.
Existem diversos desafios na construção de uma defesa. Segundo Laura Grego, astrofísica e especialista em defesa contra mísseis e segurança espacial na Union of Concerned Scientists, interceptar um míssil balístico intercontinental (ICBM na sigla em inglês) é realmente difícil.
Após o lançamento, o ICBM passa 15 minutos viajando pelo vácuo espacial antes de reentrar na atmosfera antes de atingir seu alvo. Isso permite três pontos de intercepção em sua jornada: no lançamento, quando ele está no espaço e depois que retorna para a atmosfera, já se aproximando do objetivo final.
Mas cada uma dessas possibilidades têm limitações.
Interceptando uma bomba nuclear
Defesa no lançamento
Grego contou que “a fase de lançamento leva de um a alguns minutos de duração”, o que deixa pouco tempo para um foguete interceptar e “matar” o míssil. Além disso, considerando-se que países rivais, como Rússia e Estados Unidos, possuem grandes territórios, seus mísseis provavelmente seriam colocados bem no interior do país. Isso significa que interceptores baseados no oceano não alcançariam o míssil em sua fase de lançamento.
Outro problema desse tipo de intercepção é que ela deve ser precisa, acertando um ponto exato do míssil. Se isso não for feito, o míssil “pode não alcançar exatamente o alvo intencionado. Ele irá cair em outro ponto, como o Canadá, algo que o Canadá não gostará”, Grego acrescentou.
Veículos aéreos não tripulados já foram uma opção, mas eles não possuem o poder bélico para destruir um míssil, completou a astrofísica.
Defesa no meio do curso
A opção mais viável é interceptar o míssil durante a fase mais longa, no espaço. Mas essa alternativa também têm seus problemas.
“O míssil voa de 24.000 a 27.000 km/h. Indo nessa alta velocidade, se você erra por uma polegada, você acabar errando por uma milha”. E há outro obstáculo: não há resistência do ar no espaço. Na ocasião de haver um balão no formato de uma ogiva, é difícil para o míssil distinguir entre ambos. E como balões são leves, uma ogiva sofisticada poderia facilmente soltar 20 ou 30 balões chamarizes para dificultar a localização da ogiva, Grego disse.
A última alternativa é uma intercepção depois que o míssil retorna à atmosfera. Mas a velocidade com a qual ele se aproxima torna a estratégia um pouco complicada. As forças militares dos Estados Unidos testaram, nas últimas décadas, essa opção. No governo de George W. Bush, um sistema de defesa antimísseis de médio curso com base terrestre foi colocado em operação. Desde então, errou em 9 de 17 vezes, segundo os militares.
“A falha nos testes de intercepções em voo surpreende ainda mais porque são testes altamente planejados para obter sucesso. Se esses testes fossem feitos para driblar as defesas dos Estados Unidos, como um inimigo de fato faria, o índice de falhas seria ainda pior”, disse Coyle.
E mesmo que os projetos fossem redesenhados com bom planejamento e tecnologias, alguns desafios em relação à defesa nuclear parecem intransponíveis, Grego disse. Por exemplo, até então, ninguém conseguiu solucionar o problema de ogivas chamarizes no espaço.
Conclusão
Diversos testes foram conduzidos por cientistas e militares, mas ainda é difícil projetar uma defesa precisa contra uma bomba nuclear. Para completar, não sabemos se já existe uma tecnologia para parar uma bomba nuclear em pleno voo, pois muitas informações relacionadas ao armamento e à defesa nuclear são mantidas em sigilo pelas nações que possuem essa categoria de poderio. Só saberemos da sua existência na eventualidade de uma guerra nuclear — algo que preferimos não ter por ora.