A primeira bomba atômica criou um material super raro

Mateus Marchetto

Em 2011, o cientista israelense Daniel Shechtman foi laureado com o Prêmio Nobel em química. A descoberta de Shechtman, ainda nos anos 80, atraiu muita atenção e controvérsia de pesquisadores ao redor do mundo. Acontece que Shechtman descreveu os quasicristais, uma estrutura super rara formada em meteoritos, raios e – como mostram novos estudos – na primeira bomba atômica.

Como o próprio nome sugere, um quasicristal é quase um cristal. Primeiramente, vale lembrar que um cristal é um conjunto de átomos que seguem um padrão espacial em três dimensões. Contudo, os quasicristais não seguem esse padrão tridimensional, apesar de seus átomos se encaixarem em equações matemáticas.

Isso, portanto, faz com que esse material seja super raro. Todavia, uma nova pesquisa acaba de mostrar que a explosão da primeira bomba atômica formou um tipo de quasicristal artificial.

Esse material, encontrado em Trinity Site (no local do teste da primeira bomba atômica) estava junto com um conjunto de trinitita. Esse último composto lembra um vidro esverdeado e é uma junção da torre-base da bomba atômica com todos os debris que se fundiram nesse material. Contudo, o novo quasicristal tem uma coloração vermelha, recebendo também o nome de trinitita vermelha.

Pesquisadores acreditam que as condições extremas da explosão da bomba atômica provavelmente foram as responsáveis pela criação do quasicristal.

Condições de uma bomba atômica

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As ametistas são um exemplo de cristal formado em condições extremas. Imagem: KatinkavomWolfenmond/Pixabay 

Como dito antes, os quasicristais se formam em condições muito específicas. Naturalmente poucos fenômenos podem ocasionar a formação desses cristais estranhos. Impactos de raios e meteoros, por exemplo, são as principais fontes de quasicristais no mundo.

Contudo, o novo estudo pelo laboratório de Los Alamos mostra que a explosão em Trinity Site foi o primeiro evento causado por humanos a formar um quasicristal. Especialistas afirmam que isso pode ter acontecido pela temperatura e pressão absurdas geradas pela explosão, o que pode ter forçado o material a essa composição estranha.

Ademais, pesquisadores acreditam que o estudo desses quasicristais vermelhos podem ajudar no rastreamento de bombas ou outros armamentos nucleares ilícitos. Nesse sentido, muitos países passam por inspeções e avaliações para que as autoridades mundiais saibam quando um armamento nuclear está em testes.

Terry C. Wallace, co-autor do estudo, afirma que a análise dos compostos de um quasicristal pode identificar se um teste nuclear aconteceu e mesmo quando aconteceu. Assim, descoberta do material de fórmula química Si61Cu30Ca7Fe2 foi publicada pelos autores no periódico PNAS.

O artigo está disponível em PNAS.

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