Plantas mais antigas que os dinossauros correm risco de extinção

Dominic Albuquerque
Cicadáceas no Parque Nacional Litchfield, Austrália. Imagem: DEA / C.DANI / I.JESKE/ De Agostini via Getty Images

Olhar para uma cicadácea é como viajar no tempo. Essas plantas são antiquíssimas, mas infelizmente correm risco de extinção no mundo moderno.

Seu tronco áspero e robusto que se ergue até ramificar-se em folhas duras e semelhantes a palmeiras parece mais adequado ao Cretáceo Superior do que ao mundo  moderno, e facilmente se pode imaginar um dinossauro chifrudo se aproximando do vegetal para se alimentar.

As cicadáceas passaram por mudanças dramáticas ao longo da sua história, e talvez seja nosso papel salvá-las da extinção. Apesar de terem sobrevivido diversas extinções em massa, muitas espécies dessas plantas antigas correm risco de desaparecer devido à atividade humana.

Não estamos apenas alterando os habitats onde essas plantas resilientes vivem, mas há um comércio crescente de cicadáceas raras e sob risco de extinção que ameaça essas plantas, mesmo depois de floresceram na superfície do planeta por milhões de anos.

As cicadáceas são mais antigas até mesmo que os dinossauros. Há cerca de 280 milhões de anos atrás, onde agora fica a Bacia do Paraná, no Brasil, cresceu uma planta com um revestimento externo resistente e escamoso.

Paleobotânicos conhecem essa planta como Iratinia australis, a cicadácea mais antiga conhecida.

“Esses fósseis já possuem muitas das características que vemos nas famílias atuais de cicadáceas”, disse Mario Coiro, do Instituto Ronin, “ainda que em combinações inesperadas”.

Esse período inicial das cicadáceas é parte de uma história paleobotânica que envolve plantas não familiares aos nossos olhos modernos.

Essas plantas sobreviveram à maior extinção em massa de todos os tempos, ao final do período Permiano, há 252 milhões de anos atrás, antes de proliferarem ao lado dos dinossauros e mamíferos no Triássico.

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Cones com sementes de cicadácea numa planta da África. Imagem: DeAgostini/Getty Images

A história das plantas cicadáceas

Entre 200 e 66 milhões de anos atrás, as cicadáceas provavelmente estavam por toda parte, e sem dúvidas eram forragem para muitos dinossauros. Paleontólogos especulam que os dinossauros podem ter ajudado na disseminação dessas plantas ao se alimentar do seu fruto, inclusive as sementes no  interior.

Durante a alimentação, as criaturas poderiam ter deixado cair embriões em novos locais, com fertilizantes naturais que contribuiriam para o seu crescimento. Mas ainda que sejam muito antigas, botânicos estão descobrindo que essas plantas não interromperam seu processo evolutivo.

Um estudo de 2011 feito por Nathalie Nagalingum, do Royal Botanic Garden Sydney, descobriu que as cicadáceas têm respondido às mudanças climáticas, e estão evoluindo rapidamente para se adaptarem ao planeta.

Cerca de 300 espécies existem hoje em dia, mas a maioria delas não é mais antiga do que 12 milhões de anos. O que se percebe é uma diversificação de cicadáceas que ocorreu, no tempo, mais próxima a nós do que uma diversificação ocorrida nas cicadáceas que viveram nas florestas jurássicas.

As cicadáceas chegaram ao ápice no Mesozoico, reduzirando após a extinção em massa que devastou os dinossauros, e então retornando novamente ao longo dos últimos doze milhões de anos, possivelmente em ambientes tropicais, em locais com a combinação ideal de calor e precipitação.

Sem depender dos dinossauros, a evolução das cicadáceas ocorreu de acordo com fatores mais amplos, como o clima, bem como mudanças entre estações secas e úmidas. Além disso, as cicadáceas modernas crescem e vivem em muitos habitats e possuem muitas formas, o que demonstra como elas foram mudando com o tempo.

Mas, apesar da sua história longa como sobreviventes, as cicadáceas sofrem para se adaptar à era moderna por completo. Muitos fatores as colocam em risco, e o impacto humano tem sido direto. “A maioria das espécies estão ameaçadas por destruição e degradação de habitat”, explica Cristina Lopez-Gallego, botânica da Universidad de Antiquia.

“Ameaças oriundas das atividades humanas insustentáveis podem alterar drasticamente populações e habitats de maneira rápida”, disse a botânica, “o que não pode ser comparado com os eventos naturais que as cicadáceas viveram durante sua história evolucionária”.

Felizmente, observa Lopez-Gallego, existem iniciativas de conservação na África, nas Américas e na Ásia para salvar as cicadáceas remanescentes. Programas de conservação e pesquisas de genes podem ajudar a preservar e reintroduzir essas espécies antes que elas desapareçam.

As cicadáceas sobreviveram sem nós por 280 milhões de anos, mas talvez agora elas precisem de nossa ajuda para continuar no planeta.

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