Pesquisa revela que a maioria dos cães não gosta de receber abraços

Damares Alves
Mulher abraçando um cão com claros sinais de desconforto.

Pesquisas recentes realizadas por uma equipe internacional liderada por Elizabeth Ann Walsh, do Cork Pet Behaviour Centre, na Irlanda, trazem uma perspectiva intrigante sobre a prática comum de abraçar cães. A despeito da popularidade dos abraços caninos, exibidos profusamente nas plataformas de mídia social, os sinais comunicativos dos cães sugerem o contrário do que acredita a maioria dos donos de pets. Essas demonstrações de afeto, que muitos interpretam como um sinal da profunda ligação entre humano e animal, podem, na verdade, indicar sinais de estresse no cão.

A compreensão de que os cães são animais cursoriais, ou seja, evoluíram para correr, colabora para a ideia de que abraços podem ser interpretados pelos cães como um ato de contenção. Isso pode aumentar o nível de estresse deles e, em situações de ansiedade intensa, há um risco real de reação agressiva. Tais descobertas levantam questões pertinentes sobre as interações humanas com cães e os métodos tradicionais de demonstração de afeição entre espécies.

Em 2016, um estudo analisou a reação de cães abraçados utilizando fotos disponibilizadas na internet. Foram avaliadas as primeiras 250 imagens obtidas através das buscas “abraçando cachorro” no Google Images e no Flickr. A pesquisa tinha como objetivo identificar sinais de desconforto, estresse ou ansiedade nos cães, como:

  • Mostrar os dentes
  • Virar a cabeça para evitar contato visual
  • Fechar ou semicerrar os olhos
  • Abaixar as orelhas ou colá-las à cabeça
  • Lamber os lábios
  • Ter o olhar de “meia-lua”

Dos registros analisados, 81,6% mostravam cães exibindo ao menos um sinal de desconforto. Apenas 7,6% das fotos indicavam que os animais estavam confortáveis sendo abraçados. Outros 10,8% das imagens apresentavam respostas neutras ou ambíguas ao contato físico.

Após a publicação do estudo, muitos defenderam a prática de abraçar seus cães, enviando fotos que, mesmo assim, frequentemente revelavam os sinais de estresse anteriormente identificados. Essas reações puseram em evidência a persistência de interpretações antropomórficas do comportamento canino, muitas vezes em detrimento de evidências comportamentais observáveis.

Em um novo estudo, investigadores analisaram vídeos no lugar das fotografias estáticas habitualmente utilizadas em pesquisas anteriores. Um leque mais amplo de sinais comportamentais, tais como ofegar, piscar ou morder, pôde ser avaliado nessas gravações, oferecendo um panorama mais detalhado das interações. Em estudos especificamente focados no comportamento dos cães ao serem abraçados pelos humanos, uma variedade de dados comportamentais foi meticulosamente catalogada.

Os pesquisadores selecionaram e analisaram 80 vídeos de grande popularidade em plataformas de mídia onde pessoas apareciam abraçando seus cães. Os comportamentos específicos foram marcados individualmente, resultando em uma análise mais refinada do estado emocional dos cães.

Dados expressivos demonstraram que 68,25% dos cães evitaram contato visual, demonstrando um claro distanciamento de quem o abraçava ao desviar o olhar, enquanto 43,75% foram observados lambendo os lábios ou o nariz, sinais potenciais de desconforto. Notou-se ainda que 81,25% dos cães piscavam durante o abraço, 60% mantinham as orelhas baixas e 42,5% ofegavam, elementos que também podem ser interpretados como sinais de estresse.

Investigações adicionais revelaram que 67,5% dos cães exibiam comportamentos de mordida ou “mordidinhas” em resposta aos abraços humanos, comportamento que claramente não indica prazer ou alegria com o contato físico.

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