No município de Santana do Cariri, no Ceará, a população de quase 18 mil habitantes já está familiarizada com os animais pré-históricos que são estudados por pessoas vindas de fora, interessadas nas relíquias fossilizadas pelo território.
Contudo, a falta de estrutura, assim como de salários adequados, dificulta a pesquisa de fósseis realizada na cidade, cujo turismo ainda não é valorizado. A principal atividade econômica da região é a extração de pedras para a produção de pisos e móveis, atividade que também tem sido desqualificada.
Só recentemente, por exemplo, é que salários mínimos começaram a ser pagos a alguns funcionários de extração.
O Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, que exibe os principais fósseis encontrados nas redondezas, possui um acervo contendo cerca de 9.000 peças. Há fósseis de plantas, peixes, anfíbios, répteis, insetos, aves e outros organismos armazenados no prédio de dois andares.
A estrutura do museu, contudo, também é precária.
Muitos dos fósseis ficam expostos em mesas, aguardando por serem incorporados ao resto, e os holótipos – espécimes que designam uma espécie – ficam guardados em condições impróprias à natureza do trabalho proposto pelo museu. Com uma sala que carece de refrigeração, o processo de preservação também é prejudicado.
Numa visita realizada pela Folha de São Paulo, foi registrado que a lojinha do museu tinha sido desativada, os banheiros tinham trincos quebrados nas portas, e que havia falta até de papel higiênico. Nas salas de estudo não havia computadores, lupas ou cadeiras em boa qualidade, e isso acaba por reduzir a qualidade de estudo, por exemplo, para alunos da Urca (Universidade Regional do Cariri) ou visitantes de outras instituições de pesquisa.
Todo o processo de pesquisa de fósseis, estudo e incorporação, consequentemente, é lesado devido à falta de estrutura apropriada para a atividade.
Proposta para alavancar a pesquisa de fósseis
Em 2006, uma tentativa de incentivar o turismo da região foi feito com a criação do Geopark Araripe. Foi o primeiro geoparque das Américas, com uma flora constituída principalmente de caatinga, cerrado e mata atlântica. Com uma fauna composta por diversas espécies, o geoparque apresenta também um pássaro endêmico encontrado apenas na região como símbolo, o Soldadinho do Araripe (Antilophia bokermanni).
Há 120 milhões de anos, a região possuía um grande lago, que se tornou refúgio de diversas espécies de animais em busca de alimento. Quando os continentes se separaram, as águas oceânicas invadiram a área, aumentando sua salinidade ao ponto de provocar a morte dos seres vivos existentes por ali — o que acarretou na preservação e surgimento dos fósseis.
O incentivo turístico, contudo, infelizmente não gerou os frutos esperados. Todavia, a Funcap (Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico), junto ao governo do Estado do Ceará, tomou uma nova iniciativa para alavancar a pesquisa de fósseis no Cariri.
Com um edital de dez bolsas de pesquisador visitante para investigar os fósseis do Araripe e contribuir na pesquisa paleontológica, a iniciativa também inclui a curadoria da coleção de fósseis do museu. O investimento é de R$ 2,16 milhões, com previsão para dois anos e possibilidade de prorrogação.
O plano lançado em 2017 pelo Geopark Araripe envolve uma loja para venda de produtos regionais no museu, com aluguel do espaço e do auditório da sede do Geopark, além de uma iniciativa voltada especialmente para turismo sustentável e desenvolvimento regional. 5% da arrecadação serão destinados ao parque.
Espera-se, com isso, alavancar a pesquisa de fósseis na região.
Até hoje, na região do Cariri, já foram encontrados fósseis de dinossauros, pterossauros, peixes, insetos e flores, alguns dos quais são considerados como os mais preservados do mundo.