Periódicos de prestígio criam barreiras para cientistas não falantes de inglês

Elisson Amboni
Imagem: Pixabay

O compartilhamento de informações científicas é fundamental para tratar preocupações globais e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. No entanto, a barreira do idioma representa um desafio significativo para os acadêmicos de regiões onde o inglês não é comum. Os especialistas destacam uma difícil escolha enfrentada pelos cientistas: publicar em seu próprio idioma para melhorar o acesso das comunidades locais ao seu trabalho ou em inglês para alcançar um público internacional mais amplo, aumentando o tempo e o esforço na redação e edição.

Uma nova pesquisa aponta uma barreira inesperada nas publicações de prestígio na área científica, que são vistas como portadoras do conhecimento. A predominância dessas publicações não oferece políticas de inclusão linguística efetivas, mesmo quando são de acesso aberto ou de países não anglófonos. Os resultados deste estudo foram publicados na revista Proceedings of the Royal Society.

Na comunidade acadêmica das ciências biológicas, observa-se que a maior parte dos periódicos realiza apenas um esforço mínimo para superar as barreiras linguísticas na publicação de pesquisas. Destaca-se que a possibilidade de autores publicarem seus artigos em múltiplos idiomas ainda é subutilizada, com apenas 7% das revistas oferecendo essa opção. Além disso, o advento da tradução automática é aproveitado por uma minoria, com apenas 11% das revistas aderindo a essa tecnologia para expandir o acesso linguístico aos seus artigos.

As orientações para autores, cruciais para a submissão de trabalhos, são em sua maioria disponibilizadas em idioma único. Esta prática exclui potencialmente aqueles que poderiam contribuir valiosamente, mas se encontram limitados pelas barreiras linguísticas. Embora uma pequena parcela, 8% das revistas se sobressai por oferecer instruções completas em várias línguas, há ainda um caminho extenso pela frente para se alcançar uma verdadeira inclusividade.

Pesquisadores apontam que uma política editorial mais aberta, que explicitamente afirme não rejeitar artigos somente pela competência do autor no inglês, seria uma ação poderosa em prol da inclusão. A prática, infelizmente, parece ser rara, pois somente duas revistas declararam seguir tal diretriz.

Para mitigar o problema da exclusão linguística e promover a inclusão global na pesquisa científica, é imperativo que periódicos revejam suas políticas e práticas editoriais. Ao se adaptarem para acolher uma comunidade científica verdadeiramente diversificada, eles servirão melhor à ciência e à sociedade como um todo.

A métrica do fator de impacto revela impactos significativos na implementação de políticas linguísticas pelas revistas acadêmicas. Revistas com fatores de impacto elevados muitas vezes apresentam políticas menos inclusivas, o que poderia ser explicado pelo predomínio da língua inglesa entre seus colaboradores e leitores.

Por outro lado, revistas associadas a sociedades científicas se destacam por políticas acolhedoras. Essas entidades estão frequentemente à frente de iniciativas para oferecer conteúdo em múltiplos idiomas, refletindo o seu compromisso com uma comunicação científica mais abrangente.

A influência da diversidade dos conselhos editoriais na inclusão linguística não é clara. Nem o papel dos conselhos editoriais e nem das revistas de acesso aberto mostraram um aumento significativo na adoção de regras de linguagem inclusivas. Este achado desafia a suposição de que a diversidade linguística dos membros do conselho possa facilitar as políticas de inclusão linguística.

Os pesquisadores notaram que a propriedade de periódicos por sociedades científicas e o suporte da comunidade científica podem fomentar uma mudança cultural favorável à publicação científica mais inclusiva. Conclui-se, portanto, que determinados fatores institucionais e métricas de prestígio desempenham papéis divergentes na promoção da inclusão linguística no âmbito da divulgação acadêmica.

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