Uma guerra nuclear começaria com uma nuvem em forma de cogumelo no céu, uma forma que o mundo esperava não ver nunca mais. A retaliação não tardaria a vir, cada uma com a intenção de finalizar a Guerra de Todas as Guerras, até que logo a Terra começaria a estremecer sob uma camada de fuligem e poeira.
Cenários mapeando e calculando a devastação de um inverno nuclear não são algo novo, datando deste a época da Guerra Fria. Décadas depois, temos muito mais informações acerca dos efeitos das partículas na atmosfera sobre a agricultura. Em suma, a situação continua sombria como sempre foi.
Usando os últimos dados sobre rendimentos de culturas e recursos de pesca, um grupo de cientistas de todo o globo propuseram seis cenários estimando o que poderíamos esperar em termos de suprimentos de comida após um conflito nuclear entre estados beligerantes.
Além das consequências imediatas dos ataques, que poderiam amontoar nos milhões de mortos, a taxa de mortalidade com a crise de escassez por si poderia dizimar a maior parte da população mundial.
Os pesquisadores usaram um modelo para prever como padrões climáticos poderiam se alterar com a adição de fuligem e poeira levantados pelas explosões nucleares.
Isso então foi usado para produzir estimativas sobre como os rendimentos da produção agrícola e os estoques marinhos reagiriam a mudanças na temperatura da superfície, na luz direta e difusa e na precipitação.
Os resultados são preocupantes. Considerando um bombardeamento menor envolvendo cerca de 100 detonações, como uma que poderia ocorrer entre a Índia e o Paquistão, de acordo com os cálculos dos cientistas, 5 milhões de toneladas de partículas seriam lançadas na atmosfera.
Em comparação, os incêndios catastróficos na Califórnia em 2017 e na Austrália ao final de 2019 emitiram em torno de 1 milhão de toneladas cada.
As consequências significam que a maioria de nós teria acesso a menos 8% calorias, com 225 milhões de pessoas sucumbindo à fome nos anos seguintes.
À medida que a fuligem se acumulasse com o aumento de novas bombas nucleares, seria ainda mais difícil de medir os recursos alimentares. Uma guerra total que chegasse a esgotar os estoques dos EUA e da Rússia, com milhares de bombas, acrescentaria 150 milhões de toneladas de grãos e poeiras à atmosfera terrestre, privando o planeta de três quartos de suas calorias.
Transformar os estoques de ração animal em suprimentos de emergência e comer o que costumamos desperdiçar só nos levaria até certo ponto; uma fome lenta alcançaria 5 bilhões de pessoas ao redor do mundo, que começariam a sofrer em busca de sobrevivência nos dois anos seguintes.
Acesso direto a estoques de comida dependeria do local onde uma população vive. Num cenário onde 250 explosões nucleares lançam 27 milhões de toneladas de material no ar, latitudes altas no hemisfério norte veriam uma queda de mais de 50% em calorias colhidas, e cerca de 20% a 30% de queda nas reservas de pesca.
Para as nações próximas ao equador, a redução média em calorias seria menos que 10%. Como visto no conflito entre a Rússia e a Ucrânia, o comércio de alimentos seria quase certamente interrompido. Nações dependentes de comida de outros países teriam que se adaptar rapidamente.
O país que não sofreria tanto assim com os efeitos indiretos da guerra nuclear
Sem um comércio internacional sustentando sua dieta, a população australiana poderia ainda conseguir metade de suas calorias do seu trigo. Simulações conduzidas por pesquisadores descobriram que a cultura de trigo teria uma queda mínima em seu rendimento, ou talvez até um pequeno ganho.
Os australianos também teriam que se prevenir, mas poderiam evitar o mesmo nível de danos atingindo os outros países. Da mesma forma, o suprimento de comida da Nova Zelândia poderia sofrer um impacto menor em relação às nações que dependem de culturas como o arroz.
Como observado pelos cientistas, contudo, a perturbação sociopolítica que se daria após o início de uma guerra nuclear transformaria essas previsões em algo caótico.
“Mas se esse cenário ocorresse, de fato, a Austrália e a Nova Zelândia provavelmente veriam uma afluência de refugiados da Ásia e de outros países sofrendo insegurança alimentar”, observam os autores do estudo publicado na revista Nature.
Ainda que o estudo faça avanços em previsões anteriores, com dados mais precisos, ainda há muito que não se sabe acerca das formas que a humanidade sofreria no advento de uma guerra nuclear.
Medidas futuras poderiam fazer uso de modelos aprimorados envolvendo mais culturas, ou prevendo como sistemas de troca e comércio redistribuiriam os produtos.
Outros fatores, como a perda de ozônio e a morte de polinizadores também poderiam ser inclusos de alguma forma. Levando esses dois em consideração poderia aumentar ainda mais a taxa de mortalidade.