As mudanças climáticas têm causado muitos efeitos preocupantes na fauna do mundo todo. Há alguns anos uma onda de calor marinha obrigaram os tubarões-tigres a migrarem pro norte, alterando toda a ordem natural da região. A onda de calor também pode estar por trás da morte de várias mortes de baleias jubarte segundo um novo estudo, espécie essa que já enfrentou grandes ameaças por conta da caça de baleias.
A baleia jubarte está entre uma das dez maiores do mundo e é uma das espécies ameaçadas tanto pelas mudanças climáticas quanto pela ação humana. Muitas mudanças de comportamento tem sido observada nesses animais, como alguns anos atrás quando baleias jubarte apareceram num rio repleto de crocodilos. O estudo publicado este mês na Royal Society Open Science revela que as baleias jubarte do norte do Oceano Pacífico tiveram uma queda acentuada na década passada.
Estuda revela que onda de calor marinha causou queda preocupante na população de baleias jubarte
Para determinar isso, os pesquisadores analisaram uma série de fotos que foram coletadas pela comunidade com um software de inteligência artificial para identificar indivíduos a partir das suas caudas. Entre 2012 e 2021 a estimativa é que o número de baleias jubarte tenha caído cerca de 20%, o que daria algo em torno de 7 mil baleias. Essa estimativa traz uma preocupação grave, pois as baleias jubarte tem apresentado um crescimento populacional muito lento nas últimas décadas.
Como os autores do estudo observaram, essa suposta queda do número de baleias coincide com uma onda de calor marinha, vulgarmente chamada de “bolha”, que começou por volta de 2013 e durou por uns três anos até 2016. A intensidade dessa onda de calor nunca tinha sido registrada antes nessa magnitude e possivelmente é uma das consequências do aquecimento global que cientistas vêm alertando há tanto tempo.
Ted Cheeseman, da Universidade de Southern Cross, que fica na Austrália, as 7 mil baleias provavelmente morreram de fome graças a essa onda de calor marinha. Isso porque a bolha aumentou a taxa de mortalidade de outros animais, como as aves marinhas, algumas que se encontram na dieta das baleias jubarte. Cheeseman não acredita que isso seja um evento isolado e alerta que, caso não se tome uma ação contra as causas do aquecimento global, mais ondas de calor irão diminuir severamente a produtividade oceânica mundial no futuro próximo.
Não só as baleias jubarte, mas também outras espécies serão afetadas e, como Cheeseman coloca, “essas baleias são indicadores da saúde do oceano”.
Inteligência artificial ajudou a identificar baleias jubarte
As populações de baleias são estimadas, geralmente, através de métodos de extrapolação. Ou seja, se conta o número de indivíduos numa determinada região e assim se obtém uma quantidade aproximada para a população geral. O estudo foi um dos primeiros a incorporar o Happywhale, um projeto colaborativo internacional onde pessoas podem enviar fotos através do site ou do aplicativo com o local e hora do avistamento da baleia.
A partir daí, a equipe de pesquisadores usou uma inteligência artificial para analisar cada uma das fotos, baseando-se no formato das barbatanas caudais e dos seus padrões de pigmentação, para conseguir distinguir os indivíduos um dos outros. O Happywhale, que tem como co-fundador o próprio Cheeseman, recebeu cerca de 800 mil fotos e assim conseguiram identificar um pouco mais de 100 mil baleias diferentes.
Os pesquisadores estavam com esperança que essa análise confirmasse que as baleias jubarte estavam se recuperando lentamente após anos de caça. Contudo o resultado foi o oposto. As evidências mostram que o número de 33.500 baleias registradas em 2012 caiu para 26.500 em 2021. Deve-se destacar que existem várias incertezas nesses números já que não se tem noção da real precisão da inteligência artificial. Porém Cheeseman e seus colegas estão confiantes que a diminuição das baleias jubarte é bem real.