Nova tecnologia pode reciclar todos os tipos de plásticos

Damares Alves

O plástico moldou o mundo moderno, mas ao mesmo tempo se transformou em um dos seus maiores problemas ambientais. Desde a década de 1950, mais de 10 bilhões de toneladas de plástico foram produzidas globalmente, e mais de 8 bilhões de toneladas acabaram como resíduos, poluindo tanto a terra quanto os mares. A cada ano, produzimos cerca de 350 milhões de toneladas de resíduos plásticos. Diante dessa realidade, a necessidade de soluções inovadoras é urgente.

A reciclagem tradicional, que se baseia na separação e reprocessamento mecânico do plástico, tem se mostrado insuficiente. Atualmente, nem 10% do plástico mundial é reciclado, e mesmo esse processo enfrenta limitações, como a contaminação e a degradação do material reciclado. Além disso, muitos tipos de plástico não são adequados para reciclagem mecânica devido à complexidade de sua composição química ou ao estado de contaminação.

Em resposta a esses desafios, surge a reciclagem avançada, uma tecnologia que promete revolucionar o tratamento de resíduos plásticos. Diferente da reciclagem mecânica, a reciclagem avançada não depende apenas de processos físicos, mas utiliza métodos químicos para quebrar os plásticos em seus componentes moleculares.

Tecnologias promissoras

Duas das principais tecnologias em reciclagem avançada são a pirólise e a gaseificação. A pirólise aquece o plástico na ausência de oxigênio, decompondo-o em óleos, diesel, nafta, ceras e monômeros. Já a gaseificação usa temperaturas ainda mais altas para converter completamente os resíduos plásticos em gás de síntese, uma mistura valiosa de monóxido de carbono e hidrogênio, que pode ser transformada em uma variedade de produtos químicos industriais.

Ambas as tecnologias têm evoluído rapidamente e oferecem uma alternativa promissora ao problema do acúmulo de plásticos. Por exemplo, o processo pode converter plásticos sujos e misturados em produtos químicos puros, indistinguíveis daqueles extraídos do petróleo bruto. Estes produtos podem ser então reutilizados para produzir novos plásticos ou outros produtos químicos industriais, contribuindo para uma economia circular.

Um futuro circular

A Europa lidera globalmente na implementação da reciclagem avançada, com mais de 100 tecnologias em operação ou desenvolvimento. Nos Estados Unidos, mais de $7 bilhões foram investidos desde 2017, com muitos produtos reciclados já disponíveis no mercado.

Além disso, uma nova técnica chamada solvólise está emergindo no horizonte. Esta tecnologia envolve dissolver o plástico em líquido e recuperar produtos químicos úteis dele. A solvólise requer menos calor que a pirólise e gaseificação, tornando-a uma opção mais verde, produzindo menos subprodutos tóxicos.

Desafios e controvérsias

Apesar das promessas, a reciclagem avançada ainda enfrenta desafios significativos. O consumo energético e o potencial para geração de resíduos tóxicos são preocupações persistentes. Cada processo precisa ser cuidadosamente auditado para validar suas credenciais ambientais.

Além disso, há um ceticismo crescente sobre se essas tecnologias podem ser implementadas em uma escala que realmente resolva o problema global do plástico. Organizações ambientais criticam a dependência contínua do plástico e argumentam que a reciclagem avançada pode ser uma estratégia para perpetuar seu uso ao invés de eliminá-lo.

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