Baleias estão ingerindo uma quantidade chocante de microplásticos

Francisco Alves
Imagem: Stock Image

Os oceanos, lar de mais de 200.000 espécies conhecidas, podem abrigar até 2 milhões ainda escondidas em suas profundezas. Porém, esses mesmos oceanos também abrigam um intruso indesejado: 24,4 trilhões de partículas de microplásticos.

Nos últimos vinte anos, o depósito desses microplásticos triplicou. Isso sinaliza um aumento alarmante na poluição marinha. Não se trata apenas de uma camada de sujeira no fundo do oceano. Esses microplásticos são consumidos por uma variedade de animais marinhos.

Relatórios indicam que pelo menos 1.500 espécies já foram flagradas consumindo plástico. Na baía de Hauraki, na Nova Zelândia, as baleias consomem cerca de três milhões dessas partículas todos os dias, de acordo com uma nova pesquisa publicada no periódico Science of the Total Environment. As consequências desse consumo ainda são desconhecidas, mas levantam preocupações significativas.

Dieta de materiais artificiais

Baleias poderiam estar ingerindo milhões de microplásticos e microfibras diariamente, mesmo nas águas moderadamente poluídas da costa oeste dos EUA. Surpreendentemente, 99% dessa ingestão ocorre através da predação de animais já contaminados por plástico, e não pela filtração da água.

Avaliar as taxas de ingestão de microplásticos é fundamental para entender os possíveis impactos na saúde das baleias. Diferente do que imaginamos – animais marinhos confundindo plásticos com alimento e, eventualmente, eliminando-os –, os microplásticos são mais perigosos.

Pesquisas apontam que, se pequenos o suficiente, os microplásticos podem atravessar a parede intestinal e invadir órgãos internos. Os efeitos a longo prazo desse fenômeno ainda não são claros. A ingestão de plástico também pode levar à liberação de substâncias químicas disruptoras endócrinas.

Embora a compreensão das consequências a longo prazo seja limitada, é provável que ingerir materiais artificiais como plástico não seja benéfico para esses organismos e suas presas.

Impacto extensivo

O declínio das baleias afeta não apenas os cetáceos, mas também os seres humanos e todo o ecossistema marinho. Fazemos parte dessas cadeias alimentares e consumimos microplásticos regularmente. Eles estão presentes na água engarrafada, no sal de mesa e até no pó das nossas casas e no ar que respiramos. Ainda desconhecemos os efeitos na saúde humana.

As baleias são engenheiras do ecossistema, conforme explica Kahane-Rapport. Elas atuam como uma bomba, recirculando os nutrientes consumidos e servindo como sentinelas do ecossistema. Quando as baleias não estão prosperando, outras partes do sistema marinho provavelmente também enfrentam problemas.

E agora?

Microplásticos são produzidos em grande quantidade por atividades cotidianas, como lavar roupas, onde as fibras sintéticas acabam nas águas residuais. Dirigir também contribui para o problema, pois o desgaste dos pneus produz mais microplásticos do que qualquer outra fonte, de acordo com pesquisadores.

Para combater essa questão, Kahane-Rapport sugere algumas ações que as pessoas podem tomar:

  • Descartar corretamente o lixo para evitar que acabe nos esgotos.
  • Adicionar um filtro simples à máquina de lavar para capturar as microfibras.
  • Defender melhores tratamentos de águas residuais em sua cidade, evitando a entrada de microplásticos no sistema de água.
  • Conversar com representantes locais e políticos para promover mudanças mais amplas.
  • Pressionar grandes corporações para que descartem seus resíduos de maneira responsável.

Quanto às baleias, Kahane-Rapport afirma que mais pesquisas são necessárias. O próximo passo será determinar a quantidade de plástico que as baleias eliminam e retêm em seus corpos. Além disso, será importante investigar os efeitos diretos na saúde de seus tecidos.

A pesquisa conclui que, para espécies que lutam para se recuperar da caça histórica e outras pressões humanas, é necessário prestar mais atenção aos impactos cumulativos de múltiplos estressores.

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