Durante a maior parte da história da paleontologia, os cientistas acreditavam que os dinossauros eram recobertos de escamas, como os lagartos contemporâneos.
Isso foi antes da nova onda de descobertas nas décadas recentes, que revelaram que muitas dessas criaturas incríveis hoje exintas ostentavam penas – exatamente como seus descendentes tardios, os pássaros.
Em relação aos pterossauros — os répteis voadores que reinaram nos céus durante o período dos dinossauros — nunca se soube isso com certeza. Eles eram carecas ou também tinham penas? As evidências nos registros fósseis nunca foram suficientes e definitivas — pelo menos até agora, segundo cientistas.
Preservado em lajes de calcário antigo no nordeste brasileiro, um fóssil recém-descoberto do Tupandactylus imperator revelou a existência das penas do pterossauro, que existiu há cerca de 113 milhões de anos. A pesquisa foi publicada na revista Nature.
“Não esperávamos nem um pouco por isso”, disse Aude Cincotta, paleontóloga da University College Cork, Irlanda.
O que o fóssil diz sobre os pterossauros
“Por décadas os paleontólogos discutiram sobre se os pterossauros tinham penas ou não. As penas do nosso espécime termina esse debate de uma vez por todas, pois elas estão claramente ramificadas ao longo de todo o seu comprimento, assim como nos pássaros de hoje”, disse a paleontóloga.
Até então, os pesquisadores mais ou menos concordavam que os pterossauros eram recobertos por estruturas parecidas com filamentos, chamadas de picnofibras, que poderias se parecer com uma penugem emplumada, ainda que não se soubesse se eram a mesma coisa que penas.
O novo espécime brasileiro clarifica essa questão, demonstrando não apenas os filamentos simples brotando da crista craniana, mas também estruturas ramificadas, semelhantes a penas, que até então não tinham sido relatadas em pterossauros antes, e que são marcadas por fibras curtas que se estendem de um eixo central.
“Esse tipo de ramificação é diretamente comparável com aquele do estágio penas IIIIA em pássaros existentes, isto é, com farpas ramificadas de uma raque central”, escreveram os pesquisadores no novo artigo descrevendo a descoberta.
“Isso é uma evidência sólida de que as estruturas ramificadas do fóssil são penas compreendendo uma raque e farpas”.
De acordo com as análises dos pesquisadores, provavelmente as penas foram herdadas de um ancestral avemetatarsaliano comum a dinossauros e pterossauros, ainda que seja possível que essas características tenham se desenvolvido de maneira independente, em diferentes grupos de espécies animais.
Examinando o fóssil com microscopia eletrônica de alta resolução, os pesquisadores descobriram uma existência abundante de micro corpos medindo cerca de 0.5-1μm em comprimento no tecido macio do animal, e os interpretaram como melanossomos – organelas que guardam pigmentos de melanina, responsáveis pelas diferentes cores nos corpos dos animais.
Os melanossomos tinham diferentes tipos de formas (nos monofilamentos, penas ramificadas e outro tecido craniano), o que sugere que o pterossauro pode ter exibido uma ampla gama de cores em sua plumagem.
“Nos pássaros e mamíferos modernos, muito das cores dominantes das penas e cabelos vêm de uma gama limitada de formas quimicamente distintas de melanina”, explica o paleontólogo Michael Benton, da Universidade de Bristol, Reino Unido, o autor de um comentário editorial acerca das novas descobertas.
Ainda que seja impossível ter certeza de como o T. imperator se beneficiava de penas coloridas ao longo de 100 milhões de anos atrás, Benton diz que as cores diferentes na crista cranial proeminente do pterossauro podem ter contribuído com os processos de sinalização entre diferentes indivíduos, ou para outros aspectos de chamar atenção dentro da comunicação animal.
“Talvez elas fossem usadas em rituais de pré-acasalamento, assim como alguns pássaros usam leques de cauda, asas e cristas da cabeça para atrair parceiros”, escreveu ele.
“Pássaros modernos são reconhecidos pela diversidade e complexidade de suas exibições coloridas, e pelo papel desses aspectos da seleção sexual na evolução dos pássaros, e o mesmo pode ser verdade para uma grande variedade de animais extintos, inclusive dinossauros e pterossauros”.