Fóssil recuperado pela polícia é um dos mais completos pterossauros já encontrados

Mateus Marchetto
Imagem: V. BECCARI / PlosOne 2021

Em 2013, uma operação da Polícia Federal recuperou mais de 3.000 fósseis contrabandeados, a maioria do Ceará, com destino para a Europa, Ásia e EUA. Acontece que entre estes contrabandos estava um dos fósseis mais completos de pterossauros no mundo todo.

O espécime estava em uma formação de calcário a qual, infelizmente, os contrabandistas cortaram em seis pedaços para tornar a peça mais discreta. Apesar do fóssil acabar cortado junto, pesquisadores conseguiram reconstruir o pterossauro digitalmente.

O esqueleto pertenceu a um curioso Tupandactylus navigans, provavelmente um macho. Essa espécie, e também seus parentes próximos, têm uma característica bastante marcante. A família Tapejaridae possui pterossauros com grandes cristas, grandes até demais para voos de longa distância, de acordo com especialistas.

Os T. navigans foram pterossauros de tamanho médio, podendo ter em torno de 2,5 metros de envergadura e 1,20 metros de comprimento. Contudo, destes 1,20 metros, até 40% representam o longo pescoço que sustenta um crânio e uma crista enormes.

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Imagem: V. BECCARI/ PlosOne 2021

Especialmente este novo fóssil de T. navigans é incrível, mesmo para os pesquisadores. O estudo do esqueleto, publicado no periódico PlosOne por pesquisadores brasileiros e portugueses, mostra que o nível de conservação do fóssil é provavelmente o mais alto para a espécie.

De acordo com análises dos blocos de calcário, o fóssil ainda tem restos de cartilagem de sua crista e seu bico. Vale ressaltar que os T. navigans viveram em terras brasileiras e sul-americanas há pelo menos 115 milhões de anos, no período Cretáceo.

Hábitos e fósseis de pterossauros

Como dito anteriormente, a maioria dos especialistas acredita que os T. navigans eram incapazes de realizar voos de longa distância. Isso simplesmente porque suas cristas e crânios eram pesados demais para o animal conseguir se sustentar no ar por muito tempo.

Assim, o mais provável é que esses pterossauros se comportassem como pavões pré-históricos. Ou seja, eles andavam confortavelmente durante a maior parte do tempo, buscando alimento no solo já fértil das florestas tropicais sul-americanas. Contudo, a espécie poderia, teoricamente, se utilizar das suas poderosas asas para fugir rapidamente de predadores para o topo das árvores.

A pesquisa sobre o fóssil começou em 2016, quando o exemplar chegou à Universidade de São Paulo (USP) para pesquisas. Felizmente, a operação Munique conseguiu recuperar estes e outros tantos fósseis raríssimos, o que não acontece, em geral, com a maioria dos contrabandos arqueológicos.

Todos os fósseis encontrados no Brasil, vale citar, são protegidos por lei e pertencem ao Estado. O comércio deste tipo de exemplar é estritamente proibido, apesar dos grandes mercados ilegais também no exterior.

A pesquisa está disponível no periódico PlosOne.

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