Descoberto o mais completo esqueleto da ‘besta louca’ de Gondwana

Milena Elísios
O esqueleto completo da 'besta louca'. (Créditos: Marylou Stewart)

Há cerca de 180 milhões de anos, um antigo supercontinente chamado Gondwana começou a se desfazer. Ele se dividiu lentamente formando os continentes e regiões modernas do Hemisfério Sul. Esta divisão de regiões acabaria levando à evolução única de um antepassado dos mamíferos modernos: a ‘Besta louca’ de Gondwana.

Este mamífero foi batizado como Adalatherium hui, que pode ser traduzido como “besta louca” ou “fera louca”. A localização única de A. hui foi provavelmente o que resultou em sua peculiar evolução. Segundo o registro fóssil, a ‘besta louca’ já habitou a América do Sul, África, Arábia, Índia, Austrália, Antártica e Madagascar. Sendo este último local, onde foi encontrado o esqueleto mais completo do animal, que é pouco maior que um gato doméstico.

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'besta louca' de Gondwana
Reconstrução realista de Adalatherium hui, um novo mamífero gondwanateriano do final do Cretáceo de Madagascar. (Imagem: Andrey Atuchin)

O esqueleto da ‘besta louca’ de Gondwana

Anteriormente o A. hui era conhecido somente por um conjunto de mandíbulas, dentes e um crânio individual. Sua história de vida, biologia, anatomia e relações filogenéticas eram pouquíssimo compreendidas.

“Este esqueleto revela uma série de adaptações inusitadas e até mesmo únicas que supomos serem devidas à evolução em um ambiente insular”, escrevem os pesquisadores em seu artigo.

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O estudo relata que a ‘besta louca’ também tinha um grande número de vértebras do tronco e uma cauda curta e larga, muito bem preservada onde os pesquisadores encontraram tecido cartilaginoso.

 Esqueleto da 'besta louca' de Gondwana
Reconstrução esquelética de Adalatherium hui. Vista lateral baseada em tomografias computadorizadas de elementos individuais. (Imagem: Simone Hoffmann)

Analise sugere gigantismo

Pesando 31 kilogramas, este esqueleto é um dos maiores espécimes da era mesozoica de Gondwana (entre 65 e 252 milhões de anos atrás), e pode sugerir gigantismo como resultado da evolução em um habitat insular.

“Entre os mamíferos, as influências mais óbvias e quantificáveis da evolução nas ilhas são aquelas relacionadas ao tamanho do corpo. Essa observação levou à articulação do “princípio da ilha“, que diz que – evolutivamente – pequenos mamíferos nas ilhas aumentam, e grandes mamíferos diminuem, em tamanho”, observam os autores, acrescentando que o “princípio da ilha” é algo controverso e ‘claramente não onipresente’.

“Além disso, pensa-se que a evolução em ambientes insulares resulta em mudanças na anatomia, fisiologia, comportamentos, e relativamente baixa riqueza de espécies, desequilíbrio taxonômico, alto endemismo e um nível geral de primitividade.”, acrescentaram os pesquisadores.

Como Madagascar se separou do subcontinente indiano e das Seychelles, os animais localizados na ilha evoluíram em “isolamento completo”. Este tipo de isolamento, exclusivo dos ambientes insulares promove caminhos evolutivos únicos nos animais.

Pelo menos dois outros gondwanatherianos conhecidos estão registrados na literatura científica como Adalatherium Lavanify e Vintana. Esta nova espécie é colocada ao lado de multituberculados na árvore filogenética, um grupo de mamíferos semelhantes a roedores dos continentes do norte.

O artigo que descreve o novo esqueleto de Adalatherium hui, foi publicado na revista Nature, clique aqui para acessá-lo em inglês.

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