Crianças incas sacrificadas tomavam uma bebida alucinógena antes do rito

Letícia Silva Jordão
Imagem: JOHAN REINHARD

Novo estudo sugere que duas crianças incas sacrificadas em um ritual há mais de 500 anos, beberam uma mistura especial que continha alucinógenos para deixá-las calmas antes do ritual na montanha Ampato, no Peru.

O estudo feito em dois corpos de crianças, um menino e uma menina de aproximadamente 4 a 8 anos que foram mumificados, analisou os cabelos e as unhas deles e encontrou vestígios de um dos principais ingredientes da ayahuasca, uma mistura conhecida por seus efeitos alucinógenos.

Os ingredientes encontrados foram harmina e harmalina, produtos originados de videiras Banisteriopsis caapi, utilizada para amplificar a força de outros ingredientes mais alucinógenos.

Bebidas calmantes eram comuns em sacrifícios incas

Cronistas espanhóis acreditavam que os incas bebiam uma cerveja popular de milho chamada chicha antes de um sacríficio, e documentos históricos após a queda do império inca mostram que o álcool foi muito utilizado para acalmar aqueles que estavam no caminho para o sacrifício.

Mas, utilizar um item como a B. caapi é algo totalmente novo para os historiadores. “Esta é a primeira [evidência] de que B. caapi poderia ter sido usado no passado por suas propriedades antidepressivas” diz a bioarqueóloga Dagmara Socha da Universidade de Varsóvia, na Polônia.

Segundo um estudo feito com ratos, as soluções que possuem harmina em sua composição afetam o cérebro de forma similar a alguns medicamentos antidepressivos. Socha relatou que os povos Incas podem ter entendido que essa propriedade ajudava a reduzir a ansiedade em vítimas de sacrifício, passando a utilizá-las nos seus rituais.

Evidências de rastreamento feito nas crianças incas sacrificadas também mostravam que elas haviam mascado folhas de coca semanas antes da sua morte. Essas folhas eram muito utilizadas em ritos de passagens dos incas, incluindo sacrifícios rituais de crianças e mulheres jovens que eram enviadas a vários deuses locais após a morte.

Crianças incas sacrificadas tinham relação com as chuvas

Segundo o arqueólogo Lidio Valdez, da Universidade de Calgary, que não teve participação no estudo, o fato das crianças incas sacrificadas ingerirem folhas de coca não é nenhuma novidade, mas isso pode ter sido feito devido a longa viagem que as crianças foram submetidas até o local do ritual.

Os pesquisadores dizem que essas crianças incas sacrificadas provavelmente viveriam na capital de Cuzco, e levaria vários meses até que a peregrinação fosse completa e elas chegassem até a montanha Ampato. 

Nesse caminho, elas ficavam longe das suas famílias e precisavam suportar a solidão de uma longa viagem separados de quem as mantinha seguras. Por conta disso, as folhas de coca eram utilizadas, para trazer mais calma durante essa difícil jornada.
Valdez suspeita ainda que o ritual fosse para pedir aos deuses que enviassem chuva. Isso porque o nome da montanha poderia ter sido chamada originalmente como Qamato, palavra inca que significa sapo. Como os incas associavam sapos à chuva, a montanha onde as crianças incas foram sacrificadas pode ter relação com a água ou a chuva.

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