Há pelo menos uma década, pesquisadores têm pensado em coletar material genético do ar para identificar espécies. Pela primeira vez desde então, agora cientistas conseguiram sugar DNA animal do ar e identificar com sucesso dezenas de espécies.
Duas equipes diferentes, na verdade, desenvolveram métodos muito semelhantes para coletar DNA animal do ar, praticamente ao mesmo tempo. Em uma coincidência impressionante, nenhuma das equipes sabia do trabalho a outra. Os autores só descobriram seus trabalhos quase idênticos quando os artigos pré-publicação foram liberados.
Assim, os dois grupos de pesquisadores decidiram publicar seus resultados juntos, ambos no periódico Current Biology (1 e 2). Primeiramente, a pesquisadora Elizabeth Clare de Toronto utilizou um pequeno aspirador para coletar material biológico do ar. As coletas, ademais, aconteceram em diversas posições dentro do Hamerton Zoo Park, em Londres.
Já em Copenhagen, a cientista Kristine Bohmann e sua equipe coletou amostras biológicas no ar do Copenhagen Zoo, utilizando também um pequeno aspirador e um ventilador similar a um cooler de computador.
Ambas as equipes, por conseguinte, analisaram os filtros dos aspiradores e sequenciaram todo o DNA animal presente neles. Os experimentos, aliás, aconteceram em zoológicos, justamente para que as equipes pudessem cruzar os dados de DNA com os animais presentes por ali.
Aplicações para a nova coleta de DNA animal
Já há alguns anos, a técnica de coleta de DNA ambiental (eDNA) tem revolucionado a pesquisa em biodiversidade em rios e mares. A partir de amostras aquáticas, pesquisadores conseguem rastrear e identificar espécies raras de tubarões, ou os movimentos migratórios de salmões, por exemplo.
Contudo, as variáveis climáticas dificultam um pouco mais a coleta aérea de DNA animal. Apesar disso, a equipe de Bohmann conseguiu identificar com sucesso, a partir do DNA, 49 espécies do zoológico, além de algumas dos arredores, como aves e roedores. Em Londres, a outra equipe identificou 25 espécies.
Como os resultados foram bastante promissores, portanto, a nova técnica de coleta pode ter usos interessantes e inovadores, sobretudo na ecologia. Coletar material genético do ar pode permitir que cientistas identifiquem e sequenciem o genoma de animais sem qualquer técnica invasiva ou necessidade de manipulação.
Vale comentar, inclusive, que a manipulação de animais selvagens pode causar um estresse tão grande nos bichos que frequentemente ocasiona a morte do animal. Deste modo a técnica oferece ainda um alternativa ao monitoramento por câmeras, que depende da movimentação do animal em uma área muito mais restrita. A equipe de Clare, por exemplo, identificou o DNA de suricatos mesmo a 245 metros de distância dos animais.
Referências: Measuring biodiversity from DNA in the air, Airborne environmental DNA for terrestrial vertebrate community monitoring. Current Biology / 2021.