Células de dinossauros altamente conservadas podem conter DNA

Mateus Marchetto
Imagem: Zheng Qiuyang

O DNA é o ácido nucleico que contém a maior parte da informação genética dos animais. Contudo, essa biomolécula se degrada rapidamente na natureza, e os DNAs mais antigos em fósseis datam de pouco mais de um milhão de anos. Todavia, pesquisadores acabam de descobrir células de dinossauros altamente conservadas, podendo inclusive conter DNA.

O time de pesquisadores, da Academia Chinesa de Ciências, conseguiu isolar e colorir células de um fóssil de pelo menos 125 milhões de anos de idade. O animal foi um pequeno dinossauro similar a um pavão, chamado Caudipteryx. Acontece que as células do dinossauro se conservaram de maneira excepcional em relação a outros fósseis.

Estas células, por sua vez, foram parte do tecido cartilaginoso ligado ao fêmur do animal. Esse tipo de tecido, vale ressaltar, possui células bastante juntas e compactas, com pouco líquido extracelular.

Contudo, dada a conservação da cartilagem, os pesquisadores resolveram tentar corar as células do dinossauro – de diversas formas diferentes – e observá-las ao microscópio.

O resultado impressionante é que um dos corantes, hematoxilina-eosina, corou as células do dinossauro da mesma forma que acabam coradas as da maioria dos animais. A hematoxilina, por exemplo, se liga ao DNA e colore o núcleo de roxo, enquanto a eosina deixa o citoplasma rosado.

De acordo com os pesquisadores, ainda é impossível ter certeza sobre a composição do núcleo das células deste fóssil. Ainda assim, há a possibilidade de parte da cromatina ter se conservado lá.

“Vamos ser honestos, nós estamos obviamente interessados no núcleo fossilizado da célula porque é lá que a maior parte do DNA deveria estar se o DNA estivesse preservado,” afirma a co-autora Alida Bailleul em uma declaração.

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Célula de Caudipteryx corada com hematoxilina. Imagem: Alida Bailleul et al. / Communications Biology 2021

O que conservou as células do dinossauro por tanto tempo?

Segundo a pesquisa, condições muito específicas permitiram que as células da cartilagem deste dinossauro se conservassem por tanto tempo e com tantos detalhes. Acontece que o fóssil acabou impregnado com compostos de sílica e alumínio logo após a morte do animal.

Ou seja, a maior parte da matéria orgânica do citoplasma das células acabou substituída pela sílica. Isso pode ter conservado também as estruturas da cromatina (DNA condensado no núcleo) e talvez até a informação genética.

Ainda de acordo com a pesquisa, a cromatina pode ter sido substituída por compostos parecidos, que também causariam a coloração pela hematoxilina. Contudo, isso não é muito provável, uma vez que as células de galinhas se coraram praticamente de forma idêntica na pesquisa.

Um segundo fóssil, encontrado anteriormente no Canadá, por conseguinte, possuía sinais parecidos de conservação celular. Contudo, o espécime de Hypacrosaurus era ao menos 50 milhões de anos mais novo que o novo Caudipteryx.

Além disso, as células de dinossauros raramente se conservam de qualquer forma. Os tecidos moles acabam degradados mais rapidamente por organismos. No Caudipteryx, contudo, é possível até ver diferenças em certas células.

Algumas delas, assim, estavam relativamente saudáveis, enquanto outras já estavam se degradando mesmo antes da morte do animal. Isso, vale ressaltar, é um processo natural e, mais uma vez, raramente conservado em fósseis.

A pesquisa está disponível no periódico Communications Biology.

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