Por décadas pesquisadores vêm afirmando que o aquecimento global causa milhares de efeitos adversos na biodiversidade global. Um novo estudo agora mostra, nesse sentido, que o aumento da temperatura do oceano aumenta a taxa de separação de casais de albatrozes.
As aves são, ademais, um dos grupos mais monogâmicos de animais. Mais de 90% de todas as espécies de aves mantém um parceiro fixo por longos períodos ou para a vida toda. Com os albatrozes não é diferente, e geralmente essas aves gigantes encontram um parceiro para o resto de suas vidas.
Contudo, os “divórcios” podem acontecer, mesmo que em pequenas taxas. Normalmente, essa taxa de separação dos casais de albatrozes gira em torno de 4%. No entanto, pesquisadores observaram que em anos mais quentes – devido ao aquecimento global – essa porcentagem quase dobrou, atingindo 7,7%.
Para tanto, os autores analisaram a população de albatrozes-de-sobrancelha (Thalassarche melanophris) em New Island, uma das ilhas do arquipélago das Ilhas Malvinas, no sul do Atlântico. Ao longo de 15 anos, pesquisadores rastrearam 424 fêmeas, com mais de 2900 tentativas de reprodução no total. A equipe também monitorou, ano a ano, se os parceiros destas fêmeas mudavam ou continuavam os mesmos.
Os resultados, portanto, mostraram uma forte correlação entre o aquecimento do oceano e a separação dos albatrozes. O valor mais alto citado acima (7,7%) foi observado justamente em 2017, o ano com maior aquecimento do oceano devido a mudança climática, no período do estudo. Em 2018 e 2019, o clima foi mais ameno e o índice de divórcios também diminuiu para as aves. Este padrão se manteve para os demais anos do estudo.
A relação entre a separação dos albatrozes e o oceano mais quente
O aquecimento global afeta os ecossistemas marinhos em todos os seus níveis. Águas mais quentes – e também mais ácidas – causam a morte do plâncton, por exemplo. Estes microrganismos, vale comentar, sustentam todos os outros níveis da cadeia alimentar marítima. Ou seja, os peixes consumidos pelos albatrozes também diminuem em número.
Com menos nutrientes disponíveis, o sucesso da reprodução dos casais pode cair drasticamente. Isso é ainda mais agravado pelo fato desta espécie de albatroz botar apenas um ovo anualmente.
Os autores supõem também que a diminuição das presas do albatroz podem levar a períodos maiores de migração e deslocamento em busca de comida. Isso pode fazer com que as aves voltem a suas áreas de reprodução em períodos diferentes, o que facilita a separação do casal.
Essa mudança nutricional e ambiental também pode causar, segundo os autores, um desequilíbrio hormonal nas aves. Os animais, nesse sentido, podem interpretar o estresse ambiental como algo de errado com seus parceiros, levando à separação.
A pesquisa está disponível no periódico Proceedings of the Royal Society B.